Com o anúncio de investimentos de R$ 1,5 bilhão para a produção de etanol, biometano e biofertilizantes neutros em carbono, a biorrefinaria Exygen I, em São Miguel dos Campos (AL), promete inaugurar no estado nordestino uma nova fase na indústria de biocombustíveis.
O lançamento da pedra fundamental do empreendimento ocorreu nesta segunda (27/1) — reveja a transmissão ao vivo — e a expectativa é que, no próximo ano, a usina esteja produzindo 160 milhões de litros de etanol por ano, utilizando resíduos do açúcar como matéria-prima, além de 50 milhões de metros cúbicos anuais de biometano para uso industrial e veicular.
Já a segunda etapa do projeto mira o e-metanol, um combustível sintético que combina hidrogênio renovável e CO2 capturado para substituir derivados de petróleo no abastecimento de navios.
A Exigen I é uma nova rodada de investimentos da Granbio com as usinas Caeté e Santo Antônio, além da Impacto Bioenergia (Ibea).
A intenção é marcar posição para capturar o mercado que será criado pelo Combustível do Futuro e por regulações e acordos internacionais que miram o setor de transportes.
O Combustível do Futuro, por exemplo, define que, a partir de 1º de janeiro de 2026, o setor de gás natural deverá reduzir as emissões de GEE utilizando biometano. A meta inicial é de 1%, podendo chegar a 10% de redução de emissões nos próximos anos.
A escolha de Alagoas, líder na produção de cana no Nordeste, não foi ao acaso. Segundo os investidores, a oferta de gás natural do estado e uma política de incentivos fiscais favorável influenciaram a decisão – em agosto de 2024, o governador Paulo Dantas assinou um decreto que institui o programa Exigen I, que dá incentivos à produção do etanol de baixo carbono.
“Esse projeto vai estar a menos de 1,5km da tubulação de gás da Origem, que é um importante player local. [Está] a menos de 4km da [malha de gasodutos] TAG. Nós vamos conseguir produzir um metano neutro em carbono aqui e vender para qualquer cliente no Brasil graças ao arcabouço legal criado pela lei do Combustível do Futuro e do arcabouço do biometano. Quando a lei certa aparece e a segurança jurídica é estabelecida, o investimento acontece”, comenta o presidente da GranBio, Bernanddo Gradin.
Mercado internacional no horizonte
O complexo alagoano de biorrefinarias pretende fornecer CO₂ biogênico para indústrias de bebidas e outros setores e até 110 milhões de litros/ano de e-metanol para descarbonizar o transporte marítimo.
Este último é um combustível sintético que combina hidrogênio e CO2 deve atender a uma demanda internacional que começa a se desenhar.
A indústria brasileira de etanol está atenta a isso e enxerga uma gama de oportunidades. Mas é preciso romper barreiras.
Após uma sucessão de vitórias no Congresso Nacional, o setor sucroenergético se volta às discussões internacionais que serão sediadas no Brasil para fechar lacunas de financiamento e ampliar seu mercado.
Em entrevista à agência eixos, o diretor de Inteligência Setorial da Unica, Luciano Rodrigues, conta que a expectativa é de um intenso debate em torno da regulamentação de marcos como o Combustível do Futuro e busca por financiamento para projetos de combustível sustentável de aviação (SAF) e biometano, além de discussões em defesa dos biocombustíveis na Cúpula dos Brics e na COP30, ambas sob a presidência brasileira e sediadas no Brasil este ano.
Na esfera internacional, a entidade acredita que o grande desafio será seguir o debate para a derrubada de barreiras que impedem a adoção de biocombustíveis na descarbonização global do transporte marítimo e da aviação.
“Temos que continuar o trabalho que já temos feito de disseminar o etanol como solução de descarbonização em outros países”, afirma Rodrigues. Leia na matéria de Gabriel Chiappini.
Feito no Brasil e com CO2 da cana
No cenário nacional, Petrobras, Acelen e Raízen são outras potenciais fornecedoras de novos combustíveis para aviões e navios, produzidos a partir de biomassa.
No início do mês, a Petrobras elegeu o estado de São Paulo para desenvolver o projeto de hub de hidrogênio de baixa emissão e fornecer soluções para descarbonização da indústria local.
Além de possuir quatro refinarias no estado, a petroleira também está de olho na disponibilidade de cana-de-açúcar na região. Hoje o estado é o maior produtor do Brasil, com 383,4 milhões de toneladas na safra 2023/2024.
Além do etanol, a biomassa da cana é capaz de gerar o carbono biogênico que serve de matéria-prima para produção de combustíveis sintéticos.