A economia brasileira colheu um bom crescimento no ano passado, mas deu sinais de desaceleração no quarto trimestre. Em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,4%, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 7.
O resultado do PIB do ano passado ficou dentro do esperado pelos analistas consultados pelo Projeções Broadcast. As projeções variavam de alta de 3,3% a 3,6%, mas o número de 2024 veio um pouco abaixo da mediana das previsões, que era de avanço de 3,5%.
“Se pegarmos o período pós-pandemia, fechamos (2024) com quatro anos consecutivos de crescimento expressivo em relação ao nosso histórico. É um crescimento importante”, afirma Alessandra Ribeiro, diretora de macroeconomia e análise setorial da Tendências Consultoria.
No quarto trimestre, a economia brasileira avançou 0,2% na comparação com os três meses anteriores, num claro sinal de perda de fôlego. No período de julho a setembro, o País cresceu 0,7%. O resultado ficou abaixo da mediana das projeções (0,4%), mas dentro do intervalo das estimativas, que variava de alta de 0,2% a 0,8%.
“Quando chega o quarto trimestre, temos a eleição do Trump e um pacote fiscal, que foi muito complicado. Em dezembro, começa a surgir uma sensação de que a desaceleração já aparece”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados
A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos provocou um grande aumento da incerteza com as expectativas sobre as medidas protecionistas. Os juros subiram pelo mundo, e o dólar se fortaleceu em relação a outras moedas. No Brasil, o cenário foi agravado porque o pacote fiscal apresentado pelo governo foi considerado tímido.4
Em 2024, o roteiro da economia brasileira foi parecido com o de anos anteriores, com o crescimento surpreendendo positivamente. Em janeiro do ano passado, as projeções de alta para o PIB eram de apenas 2%.
Uma parte do resultado mais forte do que o esperado pode ser explicado pelos estímulos fiscais. Desde o início da atual gestão, o governo conseguiu um espaço para ampliar os gastos com a aprovação da PEC da Transição. Na virada de 2023 para 2024, autorizou o pagamento de precatórios, para encerrar o calote dado pela administração do ex-presidente Jair Bolsonaro. Houve ainda o impacto do reajuste real do salário mínimo.
“Foi um ano de crescimento cíclico forte e claramente acima do potencial brasileiro”, afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners. “A indústria cresceu forte, os serviços cresceram forte.”
“Houve o pagamento de precatórios e aumento do salário mínimo. E numa época em que os juros estavam em queda. Essa combinação criou um momento positivo, que fez com que a taxa de desemprego caísse para os menores níveis da história e houvesse um crescimento real da renda”, acrescenta.
Pelo lado da oferta, a indústria avançou 3,3% no ano passado, e o setor de serviços cresceu 3,7%. A agropecuária recuou 3,2%.