O preço da gasolina na bomba é resultado de um cálculo que considera uma série de fatores, que vão desde o lucro do posto até as flutuações do mercado internacional. Neste momento, alguns deles empurram o valor para cima. O dólar teve uma nova escalada nessa segunda-feira (1º/07), quando atingiu R$ 5,65, seu maior patamar em dois anos e meio. Ao mesmo tempo, o petróleo tem vivido uma escalada de preços no mercado internacional. Com essa pressão, a gasolina ficará mais cara nos postos?
Caso os fatores externos apurados no início desta semana fossem integralmente considerados, ela estaria entre R$ 0,9 e R$ 0,10 mais cara na bomba, calculam as especialistas no setor Raion Consultoria e Valêncio Consultoria Combustíveis. Nacionalmente, o preço médio do combustível nos postos é 5,86 e, em BH, R$ 5,98, segundo a pesquisa mais recente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), com dados da última semana.
Tanto quem é a favor quanto quem se posiciona contra um reajuste da Petrobras neste momento é incerto sobre a possibilidade de um reajuste, pois a estatal desconectou sua política de preços do mercado internacional. Há pouco mais de um ano, ela abandonou seu Preço de Paridade de Importação (PPI), política que balizava a gasolina no Brasil com base nos valores praticados no exterior. Assim, o último aumento da gasolina foi anunciado pela empresa em agosto de 2023. O recente aumento do querosene de aviação (QAV) segue outra lógica, pois o contrato da estatal com as distribuidoras prevê reajustes mensais.
Caso a Petrobras tivesse mantido o PPI, o preço da gasolina A — ainda sem a mistura obrigatória de etanol anidro com que é comercializada nos postos — poderia estar R$ 0,67 mais cara, segundo Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). “Quando a Petrobras pratica um preço artificialmente muito baixo, está prejudicando seus acionistas. Não só os brasileiros, uma vez que o governo tem uma participação muito grande nela, mas os minoritários. É necessário e razoável aumentar o preço da gasolina”, diz o presidente executivo da associação, Sérgio Araujo.
Já o economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), avalia que o fim do PPI foi positivo e não vê margem para a Petrobras fazer um reajuste neste momento. “O PPI não fazia sentido nenhum, porque tinha transformado a Petrobras, a maior produtora de combustível do país, em uma simuladora de importadora. A serventia da empresa está longe de ser gerar o máximo de dividendos para acionistas minoritários, mas sim um papel social, ou ela não seria uma estatal”.
O fator “nova presidente”
Dantas, do Ibeps, também lembra que a nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, tomou posse há poucas semanas. Na perspectiva dele, ela tende a não se indispor com o governo e aumentar preços no início de sua administração. “Ela tem que dar um feedback importante para o governo. Estaria em uma situação delicada se, algumas semanas depois de começar e em um momento delicado da economia brasileira, aumentasse o preço dos combustíveis. Acho que seria um mau sinal”, pontua Dantas. Em sua primeira entrevista coletiva, Chambriard afirmou que os preços da Petrobras seguirão “abrasileirados”, uma menção ao fim do PPI.
“Estamos em um momento de volatilidade do dólar, e ninguém sabe se ele continuará nesse patamar nas próximas semanas. A Petrobras pode tranquilamente, sem grandes custos, no mínimo segurar o preço para ver o que ocorrerá”, complementa Dantas. Por outro lado, Sérgio Araujo, da Abicom, reforça que a pressão por um aumento aumenta dia a dia. “Agora, com esse furacão devastador no Caribe, a expectativa é de mais aumento do petróleo. Deveria, sim, haver um ajuste no preço da gasolina. Podemos até dizer que ele está congelado, porque estamos em julho e não houve nenhum reajuste, apesar da elevada volatilidade do preço dos derivados e do câmbio”, diz.
O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Minas Gerais (Minaspetro) afirma que a previsibilidade de custo dos postos é prejudicada desde o fim do PPI, pois o governo não estaria sendo transparente sobre os fatores adotados para os reajustes de preço. Consequentemente, argumenta o sindicato, isso torna o custo da gasolina mais imprevisível na bomba.
“Atualmente, a Petrobras não segue os valores que estão sendo praticados internacionalmente, o que acarreta incertezas em quando e como os reajustes serão realizados, além de problemas na gestão de estoques dos postos. Na visão do Minaspetro, portanto, a adoção de critérios mais claros para o PPI tornaria o custo do produto mais previsível para empresários e, consequentemente, para os consumidores”, diz a entidade, por meio de nota. A reportagem também questionou a Petrobras se há perspectiva para reajuste de preços e aguarda retorno.