Especialistas estrangeiros debatem certificação e especificações do mercado de lubrificantes

No segundo dia do IX Congresso Internacional de Lubrificantes e Graxas (LUBESCON), Carl Kernizan, sócio diretor da KV Tech Consulting, e Jesus Rosas, Gerente de Marketing HDMO da Afton Chemical, trouxeram informações e dados que destacam a importância da certificação no setor de lubrificantes e graxas e o futuro dos óleos para motores pesados.

Carl Kernizan

Representando o NLGI (National Lubricating Grease Institute – NLGI), Carl Kernizan, apresentou alguns conceitos de confiabilidade para o fórum a fim de que a comunidade brasileira alcance o próximo nível de certificação.

“Minha definição de confiabilidade é que se trata de um conceito multifacetado que se estende para além do simples desempenho”, argumenta Kernizan. “Não se trata apenas de a graxa funcionar depois de ser colocada nas engrenagens ou no rolamento. É mais do que isso. Inclui sustentabilidade, confiabilidade econômica, redundância, relubrificação a longo prazo e viabilidade.”

A forma encontrada pela NLGI para assegurar a tão almejada confiabilidade foi por meio de métodos de teste e especificações, que servem de base para tudo o que tem sido feito na indústria de graxa.

A história de como – nas palavras dele – a NLGI “elevou os padrões da graxa americana” começa em 1960, quando vários fabricantes de graxas decidiram criar especificações. A sinergia da época era reunir vários grupos para criar um conceito específico para, então, a NLGI assumiu essa responsabilidade. Eles criaram a D4950, uma especificação que incluía uma série de outras descrições baseadas na ASTM ((Sociedade Americana de Testes e Materiais). A NLGI passou pelo processo de criar uma nova especificação, agora chamada HPM (High-Performance Multi-use – Alto Desempenho para Múltiplos Usos).

Tecnologia a favor da indústria

Desenvolver padrões de qualidade está longe de ser uma tarefa fácil, mas a tecnologia contemporânea torna esse trabalho um pouco menos complicado. No mercado de graxas, por exemplo, a análise de dados tem se mostrado muito eficiente e Kernizan explica isso. “A NLGI tem um processo anual em que envia uma graxa base para todos os fabricantes que desejam participar, e eles realizam uma série de testes. Estamos reunindo todas essas informações e criando um banco de dados estatístico para entender como prever o desempenho das graxas.”

“Quando comecei a trabalhar, em uma fábrica de 75 anos, a automação não era uma consideração. Mas há cerca de 20 anos, a ideia de automatizar uma fábrica de graxa surgiu. A primeira pergunta foi: o que automatizar? As válvulas se tornaram o ponto chave. Ao controlar a quantidade de óleo adicionada à graxa (que compõe 80% do produto), as empresas perceberam que estavam economizando dinheiro. Com certeza não o fizemos por gostar da automação”, recorda ele. Hoje, uma fábrica de graxa pode ser praticamente totalmente automatizada. Há 20 ou 30 anos, eu teria rido disso, mas está acontecendo.”

Kernizan reconhece que o Brasil está à frente dos EUA na sustentabilidade. O palestrante recordou a apresentação de Andreza Frasson, e mencionou os óleos rerrefinados como algo “que não é bem feito na América do Norte, mas que o Brasil alcançou com grande sucesso nos últimos 15 anos”.

O futuro dos óleos para motores pesados

Jesus Rosas

Por sua vez, Jesus Rosas veio com uma palestra repleta de observações sobre as tendências e exigências que estão remodelando o mercado global de lubrificantes para veículos pesados. Rosas destaca que a sustentabilidade e as emissões estão impulsionando mudanças no mercado, especialmente na China, Índia e Europa.

Nas Américas, Rosas aponta eventos-chave:

  • EUA: Introdução da especificação API CK-4 em 2016/2017.
  • México: Exigência de qualidade mínima API CK-4 a partir de 2023, o que está modernizando seu mercado, antes fragmentado.
  • Brasil: Já estava à frente com a exigência de API CI-4 em 2016/2017, o que remodelou o mercado e aumentou a demanda por óleos de maior desempenho, com a maioria da frota usando CI-4. Rosas também menciona o impacto do biodiesel P8 e P15, que exige adaptações nos lubrificantes.

Ele projeta um crescimento significativo na demanda por óleos de motor para veículos pesados no México (cerca de 5%) e no Brasil (cerca de 2%), contrastando com mercados maduros como o dos EUA e Canadá, onde o crescimento deve ser menor.

A Nova Especificação PC-12

O ponto principal da palestra é a especificação PC-12, que tem data de licenciamento prevista para janeiro de 2027 e traz cinco pontos principais de melhoria, sendo estes: proteção contra desgaste, aprimoramento do desempenho, ênfase em sistemas de pós-tratamento, compatibilidade de materiais e redução de 25% nos teores de fósforo e enxofre (componentes essenciais para a proteção contra o desgaste).

Rosas explica que o PC-12 e as novas exigências dos OEMs (fabricantes de veículos) estão impulsionando a adoção de lubrificantes de baixa viscosidade (como 5W-30s e 5W-20s), que são mais eficientes. “Para o mercado, isso representa um desafio, já que muitos usuários ainda preferem os óleos convencionais, mas também uma grande oportunidade para diferenciação e reposicionamento de marca”, afirma.

O especialista conclui que a modernização da frota, o aumento das exigências de qualidade e a adoção de lubrificantes semi-sintéticos/sintéticos são tendências que o mercado brasileiro deve acompanhar de perto para se preparar para as mudanças que estão por vir.

 

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