Os pontos levantados pelo governo americano na investigação aberta do que considera práticas comerciais “desleais” do Brasil são completamente variados e muitos são estapafúrdios. Mas nenhum ponto é mais bizarro do que a queixa deles contra o Pix. O ataque ao Pix é um atentado à economia brasileira, à soberania de decidir que sistema de pagamentos vamos usar.
Se eles alegassem problemas concretos, como uma tarifa excessivamente alta, desequilibrada ou alguma barreira não tarifária que de fato impedisse o comércio, estariam discutindo pontos específicos. Mas se opor a uma inovação tecnológica, a um novo sistema de pagamento, é completamente absurdo, ainda mais para um país que abriga as maiores empresas inovadoras da área de tecnologia.
O Pix é um sistema desenvolvido pelo setor público, pelo Banco Central. Começou a ser estruturado no governo Temer, foi implantado no governo Bolsonaro e continua firme hoje. Não é uma questão de governos. Eles querem que o Brasil desinvente a roda?
A inovação tecnológica permitiu algo muito importante, que é a bancarização da população. E este é o argumento que o Brasil usou naquelas 91 páginas de documento, explicando que isso não fere os interesses nem dos cartões de crédito, nem de outros sistemas de pagamento dos Estados Unidos.
Entre as acusações, o governo americano afirma ainda que o desmatamento aumentou. Na verdade, o desmatamento vem caindo desde o fim do governo Bolsonaro, que é a pessoa que Donald Trump defende. No governo Bolsonaro, havia um projeto estabelecido de aumentar a destruição, de fortalecer madeireiros e garimpeiros, de recebê-los no Palácio do Planalto. O ministro do Meio Ambiente à época ia contra as autuações do Ibama aplicadas a madeireiros e desmatadores, para ficar do lado do desmatador.
É bom sempre lembrar: toda essa aflição que estamos vivendo, com a pressão da maior economia do mundo, a maior potência militar do mundo, acontece porque o bolsonarismo e a direita brasileira em eral (por omissão) estão simplesmente estimulando um ataque à nossa economia. Isso mostra o quanto a polarização levou a absurdos, a ponto de um grupo político brasileiro atacar o próprio país.
Se há divergências entre a direita moderada e a extrema direita, que elas se apresentem. Porque eles ficam nas ambiguidades. Os governadores do campo da direita, por exemplo, atacam o presidente Lula quando sabem que quem iniciou tudo isso foi a extrema direita. Em vez de atacar Eduardo Bolsonaro, que está lá atuando contra o Brasil, atacam o presidente Lula, que está tentando negociar.