E30 deve sustentar preços do etanol e pode abrir espaço para importações dos EUA

Maria Ligia Barros, especialista de etanol da Argus – Foto: Wanezza Soares

A implementação do E30 — mistura de 30% de etanol anidro à gasolina — deve dar suporte aos preços do etanol anidro no Brasil, elevando a demanda em quase 1,5 milhão de m³ por ano, segundo cálculos do governo. Para a especialista de etanol da Argus, Maria Ligia Barros, o impacto será sentido também no etanol hidratado. “Com mais matéria-prima e capacidade produtiva direcionadas para o anidro, a oferta de hidratado tende a diminuir, o que deve sustentar os preços”, explica.

De acordo com ela, a capacidade de produção nacional pode atender ao aumento de demanda, especialmente com o avanço do etanol de milho, inclusive no Nordeste, onde uma usina foi inaugurada no Maranhão e outra está em construção na Bahia. “Ainda assim, o mercado vê espaço para que importações complementem a oferta, principalmente vindas dos Estados Unidos”, acrescenta.

Maria Ligia observa que, enquanto os preços no Brasil devem subir, o etanol norte-americano pode se desvalorizar até o fim do ano devido à queda de consumo no inverno do hemisfério norte. “Isso abre a possibilidade de arbitragem, especialmente entre setembro e outubro, quando o produto dos EUA poderia chegar a preços competitivos ao Nordeste”, diz. Segundo ela, agentes do mercado — entre importadoras, distribuidoras, produtoras e corretoras — projetam importações de 400.000 a 800.000 m³ até março de 2026, com destaque para os portos de Itaqui (MA), Fortaleza (CE) e Suape (PE).

Hoje, o etanol anidro norte-americano colocado em portos do Nordeste foi cotado pela Argus a R$ 3.111/m³ sem impostos em 1º de agosto. Com a tarifa de 18% para países fora do Mercosul, o valor sobe para R$ 3.671/m³, acima do preço doméstico em Suape (R$ 3.343/m³). “Neste cenário, a importação só compensa para empresas que tenham acesso ao drawback, regime que isenta tarifas de insumos usados em produtos destinados à exportação”, afirma a especialista.

A entrada de etanol dos EUA, segundo ela, poderia pressionar os preços internos, principalmente no Nordeste, ajudando a equilibrar parte do efeito altista do E30. Mas as tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos trazem incertezas. “Se o Brasil reduzir ou zerar a tarifa, a arbitragem pode se abrir mais rapidamente e resultar em importações acima da faixa projetada. Por outro lado, uma retaliação com aumento de tarifas inviabilizaria as compras”, avalia.

Maria Ligia destaca que, para empresas com acesso ao drawback, mudanças tarifárias não alteram o planejamento de importar volumes do Golfo americano nesta safra. “A estratégia dessas companhias é aproveitar a vantagem tributária e a proximidade logística dos portos nordestinos para garantir competitividade”, conclui.

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