- No primeiro trimestre de 2024, a economia chinesa apresentou sinais positivos, com um crescimento de 5,3% em relação ao mesmo período do ano anterior. Diante desse cenário, seria de se esperar um aumento no consumo de energia no país. No entanto, o que se observa é justamente o contrário.
- Nos cinco primeiros meses do ano, houve uma queda de -1,03% nas importações de petróleo. Parte dessa queda recente se deve ao período de manutenção das refinarias, mas outra parte está relacionada à modesta demanda observada no país.
- A demanda mais fraca reflete desafios, como as margens de refino em queda neste ano. Ainda, com a recente elevação do preço do petróleo, as refinarias provavelmente priorizarão o uso dos estoques comerciais do país em vez de comprar petróleo no mercado físico, o que pode levar correções no mercado.
- As ações da OPEP+ continuarão a fornecer suporte aos principais benchmarks do mercado, mas sem um aumento mais expressivo na demanda, o mercado de petróleo deverá ter um ajuste significativo nos preços no final do ano.
No mercado de petróleo, um dos principais impulsionadores do consumo é a China, que atualmente se destaca como o maior importador mundial, com uma média de mais de 11 milhões de barris por dia nos últimos 12 meses. A OPEP, que projeta um crescimento na demanda de 2,25 milhões de barris para 2024, atribuiu 680 mil bpd ao gigante asiático, o que destaca sua importância para o desenvolvimento de um mercado altista.
“No entanto, os dados estão levantando dúvidas se a China alcançará uma expansão tão significativa no consumo de petróleo. Em maio, as refinarias do país reduziram seu processamento, um sinal de que o consumo interno pode estar desacelerando, resultado dos desafios econômicos que o país enfrenta, especialmente no setor imobiliário. Outro sinal preocupante é a persistência do enfraquecimento das margens de refino na Ásia”, aponta Victor Arduin, analista de Energia e Macroeconomia da Hedgepoint Global Markets,
“Chegando à metade do ano, consideramos importante discutir o consumo de petróleo na China e antecipar possíveis impactos no mercado energético nos próximos meses”, destaca.
Margens nas refinarias asiáticas continuam caindo
O primeiro trimestre de 2024 trouxe sinais positivos para a economia chinesa, com um crescimento de 5,3% em relação ao mesmo período do ano passado.
“Esse resultado representa um marco significativo para o país, que almeja um crescimento anual de pelo menos 5%. Apesar da crise do setor imobiliário, que vem desacelerando a economia, a atividade industrial tem surpreendido, assim como a recuperação das exportações, que se mostram bastante competitivas em meio ao enfraquecimento do Yuan”, observa Victor.
O consumo energético está correlacionado à atividade econômica de um país. Nesse contexto, seria de se esperar que os resultados da economia chinesa se traduzissem em um aumento na importação de petróleo.
“No entanto, o cenário observado nos primeiros cinco meses do ano diverge dessa expectativa: o total importado de petróleo pela China no período é 1,03% menor do que no mesmo período de 2023. Essa queda na demanda por petróleo acende um sinal de alerta para aqueles que previam um cenário mais altista para o mercado energético”, acredita.
A Agência Internacional de Energia (AIE) projeta um aumento de 1,1 milhão de barris por dia (bpd) na demanda global de petróleo em 2024, enquanto a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) se mostra mais otimista, prevendo um crescimento de 2,25 milhões de bpd. Contudo, essas projeções podem ser revisadas ao longo dos próximos meses, especialmente se a China não apresentar uma melhora no consumo por combustíveis.
Margens nas refinarias asiáticas continuam caindo
Refinarias asiáticas veem suas margens cada vez mais pressionadas. Do lado da oferta, os fundamentos advindos as ações da OPEP+ têm dado suporte ao preço aos benchmarks do mercado, mantendo referências do produto em torno de US$ 80,00 por barril. Por outro lado, a demanda modesta por produtos derivados pressiona a receita obtida pela conversão de um barril de petróleo em produtos como gasolina ou diesel.
“O processamento de petróleo na China está em patamares baixos, mas o país deve recuperar gradativamente seu nível de refino após um período de manutenções. A principal questão para o mercado é se as refinarias optarão por aumentar as compras de petróleo, elevando as importações, ou se utilizarão os estoques comerciais”, pondera.
E prossegue: “Nesse sentido, o país deverá contribuir com volatilidade baixista para o petróleo uma vez que as atuais condições de mercado não trazem grandes vantagens para o complexo de refino do país realizar compras no mercado físico. Outro sinal de incertezas, no mês de junho, Saudi Aramco precisou reduzir seus preços de venda para o mercado asiático, a primeira redução desde fevereiro em meio demanda enfraquecida”
Em resumo, apesar das incertezas em relação à demanda chinesa por combustíveis e, consequentemente, por petróleo, o déficit provocado pelas ações da OPEP+ deverá sustentar um mercado em backwardation no terceiro trimestre e oferecer suporte ao petróleo nos atuais patamares.
Ainda, é importante considerar os riscos altistas no horizonte. Recentemente, Pequim aprovou um pacote de estímulo fiscal com o objetivo de impulsionar a atividade industrial, a fabricação e as exportações. Essa medida pode levar a um aumento no consumo de combustíveis, como o diesel e recuperação das margens no continente.
No entanto, cada vez mais cresce o sentimento no mercado de que quando a OPEP+ remover suas restrições de produção de petróleo, os preços deverão sofrer uma significativa correção. A demanda continua a crescer globalmente, porém em um ritmo bastante modesto, ao passo que a perda de participação de mercado levará mais cedo ou mais tarde a OPEP+ a rever sua atual política de cortes na produção.
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