Para Al Gore, vice-presidente dos Estados Unidos na gestão Bill Clinton, as sobretaxas de 50% a produtos brasileiros anunciada pelo governo Trump não têm fundamento racional. Ou, nas palavras dele, são “absolutamente insanas”.
“Vocês estão de barriga cheia aqui. Ele [Donald Trump] acabou de impor tarifas de 50% ao Brasil, e isso é absolutamente insano, claro, e provavelmente não vai durar muito tempo. Há muita irracionalidade”, disse em evento da XP em São Paulo nesta sexta-feira (25).
A crítica foi feita em um painel sobre a crise climática, contra a qual Al Gore é um ativista vocal.
Ele é sócio fundador e presidente da Generation Investment Management, empresa de gestão de investimentos cujo carro-chefe é a aposta na sustentabilidade e que acaba de inaugurar um escritório em São Paulo.
Em 2007, ele recebeu o Nobel da Paz, junto com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (Organizações das Nações Unidas), “pelos esforços na construção e disseminação de maior conhecimento sobre as alterações climáticas induzidas pelo homem e por lançar as bases necessárias para reverter tais alterações”.
No painel da Expert XP 2025, no Expo São Paulo, Al Gore afirmou que gigantes de combustíveis fósseis exercem grande influência no governo Trump. “Ele faz o que as grandes corporações mandam”, disse, após afirmar que essas grandes empresas e os petroestados dos Estados Unidos têm muito poder político e tentam “tomar o controle” do processo de negociação.
ENERGIA LIMPA
Para ele, o Brasil tem a oportunidade de “defender a humanidade para o futuro” e de liderar pelo exemplo. Hoje, a matriz energética brasileira é predominantemente composta por fontes renováveis: mais de 80% da eletricidade gerada no país deriva de fontes que não emitem gases de efeito estufa, como hidrelétrica, solar, eólica e de biomassa.
A oportunidade se fará presente na COP30, conferência de clima da ONU (Nações Unidas) que será sediada em Belém (PA) em novembro. “Precisamos de todas as fontes e continuaremos por um bom tempo dependentes de alguns combustíveis fósseis, mas temos que avançar o mais rápido possível para o tipo de perfil energético do qual o Brasil é pioneiro. Na COP30, o Brasil pode enviar essa mensagem para o mundo todo”, afirmou.
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos, à frente da Generation Investment Management, disse considerar que o futuro dos investimentos é o investimento sustentável –que, ao contrário do que o senso comum pode apontar, é também calcado na alta rentabilidade.
Investir em iniciativas e serviços verdes “não é uma caridade”, em que o investidor abre mão do retorno financeiro em nome da sustentabilidade e do imperativo moral, disse ele. Mas sim uma estratégia de alocação que, se feita com inteligência, pode trazer bons lucros. O objetivo de Al Gore é entregar “rentabilidade acima do benchmark [padrão]”, normalmente ditado por investimentos que não estão alinhados ao ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança).
Ele pontuou que, no último ano, 93% das novas fontes de eletricidade adicionadas à matriz global têm origem renovável. “De onde veio esse dinheiro? 85% partiu de investidores privados, e não de governos. Em países pobres, a maior parte costuma vir dos governos, porque investidores evitam economias em desenvolvimento. Mas dois terços de todo o dinheiro que veio para o Brasil no âmbito de energia veio de investidores privados”, afirmou Al Gore, que considera que o setor de investimentos brasileiro é muito “saudável, grande e robusto”.
O próximo passo é encontrar um caminho para acelerar a transição energética, e cobrar “um preço pelo carbono” pode ser um dos pontos de partida, apesar da resistência das grandes corporações de combustíveis fósseis.
“Precisamos avançar em uma direção em que os investidores encarem um mundo racional, onde o preço da poluição se reflita na forma como os mercados operam. E pode ser que um mecanismo seja cobrar pelo carbono no setor automotivo, como a Europa tem feito e a China tem experimentado. É algo que deve ser discutido na COP30 aqui no Brasil.”