Projetos de novas usinas somam R$ 23 bi, e etanol de milho deve dar salto de produção

Desde julho, voltaram a ocorrer anúncios de empresas investindo em novas fábricas de etanol de milho no país, surpreendendo o mercado, já que as taxas de juros elevadas poderiam ser um desestímulo aos aportes. São Martinho, FS e Grupo Potencial foram algumas das que apresentaram seus novos planos de expansão. Com esses anúncios e de outras empresas, os projetos de novas unidades de etanol de milho em construção ou em planejamento no Brasil já somam R$ 23 bilhões, segundo levantamento do Itaú BBA.

O valor considera apenas os desembolsos de despesa de capital (capex). Já a necessidade de capital de giro para o planejamento e a construção das fábricas projetadas supera os R$ 5 bilhões, totalizando um investimento esperado de mais de R$ 28 bilhões, de acordo com o banco.

São 21 projetos anunciados que deverão ampliar a capacidade de produção de etanol de milho no país em aproximadamente 50%, dos atuais 8,2 bilhões de litros para 12,1 bilhões de litros. O levantamento do Itaú BBA não contempla o investimento anunciado na sexta-feira (22/8) pela Cerradinho Bioenergia, de R$ 140 milhões, para ampliar a unidade de etanol de milho da sua subsidiária Neomille, em Chapadão do Céu (GO).

Se a produção do etanol de cana-de-açúcar ficar estável nos próximos anos, a produção de etanol a partir do milho poderá representar mais de 30% da oferta nacional do biocombustível, em comparação a uma participação de cerca de 20% atualmente.

Um ano atrás, os projetos de investimento em etanol de milho em curso somavam R$ 20 bilhões. De lá para cá, parte daqueles investimentos foi concluída, e alguns foram postergados.

Para Guilherme Theodoro, gerente de crédito do Itaú BBA, o que levou as companhias a decidirem por novos investimentos foi a queda do preço do milho neste ano, que ampliou as margens da produção de etanol à base do grão.

Desde o início do ano, o indicador Cepea/Esalq para o milho já caiu 12,5%, para R$ 63,83 a saca, mas em algumas praças a queda foi maior. Em Mato Grosso, o milho recuou 22,6% neste ano até o último dia 19, de acordo com dados do Instituto Matogrossense de Economia Agropecuária (Imea).

Isso contribuiu para que as empresas que já atuam no segmento vissem uma recuperação da rentabilidade nos últimos trimestres. A FS, por exemplo, registrou aumento de 4 pontos percentuais em sua margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado no primeiro trimestre da safra 2025/26 (de abril a junho), para 19,6%. Já a São Martinho obteve, no último trimestre, 30% de seu lucro antes de juros e impostos (Ebit) de sua operação de milho.

Os novos investimentos, porém, só estão se tornando viáveis com a liberação de crédito subsidiado, sobretudo com financiamentos via Fundo Clima, do BNDES, ou com maior participação de equity dos acionistas nos projetos, diz Theodoro. A São Martinho, por exemplo, contratou R$ 500 milhões junto ao Fundo Clima e R$ 125 milhões via Finem para financiar seu investimento de R$ 1,1 bilhão, garantindo um custo financeiro médio dos empréstimos de 8,5%.

Entre os projetos sem crédito subsidiado, a saída tem sido aportar mais capital próprio. É o caso do Grupo Potencial, que anunciou um investimento de R$ 2 bilhões. Carlos Eduardo Hammerschmidt, vice-presidente da companhia, diz que o uso de recursos próprios “é um diferencial importante que demonstra a solidez financeira do grupo e a confiança que temos no setor de bioenergia”. Mas acrescenta que o grupo está “em tratativas com o BNDES para acessar o Fundo Clima e com a Finep, por meio de programas como o Mais Inovação”.

Segundo Theodoro, do Itaú BBA, em média, a parcela de equity tem sido de 50% dos investimentos, patamar que ele considera o mínimo necessário hoje para que um investimento, no atual nível de taxa de juros, seja “sustentável”.

Nem todas as companhias conseguem criar uma estrutura financeira consistente em meio a juros de 15%. Por esse motivo, há 11 projetos que devem acontecer, mas ainda aguardam condições financeiras melhores, e representam R$ 7 bilhões em investimentos. Desses projetos postergados, seis já haviam sido anunciados em 2024 e continuam “na gaveta”.

Os projetos em curso devem ser concluídos em até dois anos, acrescentando já nesse prazo uma capacidade instalada de 3,1 bilhões de litros por ano.

 

Fonte: Globo Rural
Crédito Imagem: Divulgação 

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