Nesta sexta-feira, 15, a chinesa GWM (Great Wall Motors) passa a ser a 17ª marca automotiva com fábrica no Brasil e a primeira a produzir carros híbridos plug-in, que funcionam com combustível e eletricidade e podem ser carregados na tomada. O início das operações ocorre quatro anos após o grupo ter adquirido as instalações onde a Mercedes-Benz produziu automóveis entre 2016 e 2020, na cidade de Iracemápolis (SP).
Durante o evento de inauguração, o grupo vai anunciar nomes de mais de uma dezena de fornecedores locais de componentes, uma mostra de que pretende iniciar a nacionalização dos veículos em breve. Nos últimos meses, a montadora se reuniu com mais de cem fabricantes de autopeças.
Além de abastecer o mercado interno, o grupo tem pressa em atingir 35% de nacionalização dos seus veículos, índice mínimo para poder exportar para países com os quais o Brasil tem acordo comercial (Argentina e México).
“O Brasil é o head quarter da GWM na América Latina e tem o papel de intensificar nossa presença na região”, diz Ricardo Bastos, diretor de Assuntos Institucionais da GWM.
A prioridade será o conjunto de baterias para carros a combustão e híbridos, como o SUV Haval H6 — primeiro a entrar na linha de montagem nas versões híbrida e híbrida plug-in. Na sequência virão a picape Poer e o SUV Haval H9, ambos a diesel. Modelos elétricos ainda vão demorar a ser produzidos no País. Versões híbridas flex, que podem usar etanol ou gasolina, estão previstas para 2026.
“A Bosch do Brasil já está desenvolvendo o motor híbrido flex para nossos veículos”, ressalta Bastos. Segundo ele, engenheiros da China participam do projeto, em parte para aprenderem como o sistema funciona. “Nossa engenharia não domina ainda o flex, e é muito positivo que a gente, a partir do Brasil, esteja agregando tecnologia e conhecimento lá na China e a lidar com biocombustíveis, nesse caso com o etanol.”
Investimentos
Confirmaram presença o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O governador Tarcísio de Freitas foi convidado, mas não vai comparecer ao evento.
A inauguração sela o que vem sendo chamado de “nova invasão chinesa” ao País, desta vez com mais investimentos e veículos de alta tecnologia. Só a GWM está investindo R$ 10 bilhões, sendo R$ 4 bilhões até o próximo ano.
No fim de junho, outra chinesa, a BYD, mostrou a autoridades e imprensa suas instalações na antiga fábrica da Ford, em Camaçari (BA), onde já faz testes de montagem do elétrico Dolphin Mini e do híbrido Song Pro. A data da inauguração ainda não está definida, pois a empresa aguarda licenças, como a ambiental e a do Corpo de Bombeiros.
A GWM começou a produzir há um mês carros que devem chegar às revendas perto do fim do ano, quando os estoques do Haval H6 importado da China estiverem no final.
Inicialmente, o grupo divulgou que abriria a fábrica em maio de 2024, mas Bastos explica que houve mudança de estratégia em relação ao primeiro veículo a ser fabricado e não havia tempo hábil para preparar a linha produtiva.
Empregos
O Brasil é o quarto país a abrigar uma fábrica GWM completa (com todas as operações fabris), depois de China, Rússia e Tailândia. No primeiro ano, contudo, o grupo praticamente fará a montagem dos automóveis, trazendo componentes da China, a maior parte pelo sistema “peça a peça”, que consiste em importar componentes individuais. Além de garantir imposto médio menor, a estratégia pode levar autopeças a antecipar a produção local de itens para os modelos da marca.
Com a recente decisão do governo de zerar, por seis meses, o imposto de importação de kits apenas para montagem local de veículos, a GWM avalia também a possibilidade de adotar essa estratégia em que o carro chega totalmente desmontado ao País (SKD) ou parcialmente desmontado (CKD) para se beneficiar da medida.
A fábrica de Iracemápolis inicia operações com capacidade de 30 mil veículos ao ano, número próximo às vendas da marca previstas para este ano, de 34 mil unidades, a maioria delas do Haval H6. Bastos afirma que é possível chegar a 50 mil rapidamente.
A fábrica já tem 500 trabalhadores e deverá chegar a 800 ou mil até o fim do ano. Nessa fase, o grupo já começará a se preparar para ter um segundo turno em 2026.