Fósseis com bioenergia embalam ‘transição justa’ do Brics

Conservadora para uns, perturbadora para outros, a declaração final da 17ª Cúpula dos Brics, divulgada neste domingo (6/7), no Rio de Janeiro, entregou para a transição energética o que estava prometido desde o início: apoio aos fósseis e apelo ao financiamento climático.

O argumento do grupo é a transição energética justa, que leve em conta as diferentes realidades dos países em desenvolvimento. Antecipa os debates da COP30, marcada para novembro em Belém, com evoluções da declaração conjunta do G20, presidida pelo Brasil no ano passado.

Formado por onze grandes economias em desenvolvimento, incluindo os países fundadores — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e os novos integrantes Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, o bloco é relevante na produção de petróleo.

De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), 44% das reservas de óleo estão nos membros do Brics, assim como 53% das reservas de gás natural e 70% da produção de carvão mineral no mundo.

E na visão do governo brasileiro, que presidiu o bloco este ano, a responsabilidade é dos ricos.

Em discurso na última sessão da cúpula do Brics no domingo, o presidente Lula (PT), criticou os incentivos dados pelo mercado à produção de petróleo e gás.

Segundo Lula, no ano passado, os 65 maiores bancos do mundo concederam 869 bilhões de dólares em financiamentos ao setor.

“Oitenta por cento das emissões de carbono são produzidas por menos de 60 empresas. A maioria atua nos setores de petróleo, gás e cimento. Os incentivos dados pelo mercado vão na contramão da sustentabilidade”, discursou. (Agência Brasil)

De grão em grão…

O fórum de países emergentes também tem em comum a agenda da bioenergia e seu papel na transição global.

Desde a presidência do G20 de 2024, o governo brasileiro tem insistido na necessidade de uma nova metodologia para reconhecer a contribuição dos biocombustíveis para descarbonizar a matriz de transportes.

É um debate que tem ganhado cada vez mais relevância diante de metas das indústrias de aviação e navegação para substituir os combustíveis fósseis.

Como eletrificar ainda não é uma opção, combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) e marítimo surgem como um novo mercado a ser explorado.

Os países do Brics com vocação para o agronegócio querem sua fatia.

Neste domingo, eles anunciaram a adoção dos “Princípios para a Contabilidade de Carbono Justa, Inclusiva e Transparente”, uma das evoluções da declaração conjunta do G20.

A medida visa orientar metodologias equilibradas para avaliar emissões e apoiar marcos regulatórios mais justos, inclusive em setores específicos, o que pode incluir biocombustíveis.

Também reconheceram a importância do SAF e dos combustíveis de baixo carbono (LCAF), como parte da solução para reduzir as emissões do setor aéreo internacional e propuseram a cooperação tecnológica entre os membros para desenvolver e implantar essas alternativas.

Dispostos a superar contradições?

No domingo (6/7), a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva (Rede), voltou a defender planejamento para a transição energética.

A jornalistas, a ministra bateu na tecla de que as “contradições existem no mundo inteiro, não só no Brasil”, mas afirmou que há disposição para superá-las.

“Nós vivemos um momento de muitas contradições, e o importante é que estamos dispostos a superar essas contradições”.

A fala ocorreu em resposta a questionamento sobre os planos do governo Lula (PT) e da Petrobras para expandir suas fronteiras exploratórias de óleo e gás.

Hoje, os blocos na Margem Equatorial do Brasil — extensa área marítima que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá e onde o Rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico — são uma das principais quedas de braço entre a ala ambiental e a desenvolvimentista da gestão petista.

Segundo Marina, o compromisso está posto desde 2023, quando na COP28, de Dubai, quase 200 países concordaram com a transição para o fim — ou para o afastamento, como traduz o presidente da COP30 — dos combustíveis fósseis.

Agora, caberia aos países ricos liderarem essa corrida, com países em desenvolvimento vindo em seguida. (Agência Brasil)

Fonte: Eixos
Crédito Imagem: Isabela Castilho/BRICS Brasil

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