Seminário do IPEM reforça papel estratégico do GNL na matriz energética brasileira

Nos dias 4 e 5 de junho, o auditório da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, na capital paulista, foi palco de um dos debates técnicos mais relevantes do setor energético nacional neste primeiro semestre: o Seminário sobre Gás Natural Liquefeito (GNL), promovido pelo Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (IPEM-SP). Voltado à abordagem metrológica, regulatória e tecnológica da cadeia do GNL, o encontro reuniu representantes do poder público, da indústria, de Distribuidoras, fabricantes de veículos e especialistas do setor acadêmico, consolidando-se como um marco institucional na articulação de propostas e diretrizes para o avanço do GNL no país.

A mesa de abertura, realizada na manhã do primeiro dia, contou com a presença de lideranças como o superintendente do Ipem-SP, Marcos Heleno Guerson de Oliveira Junior, a superintendente adjunta da ANP, Priscila Kazmierczak, o deputado estadual Tomé Abduch, a subsecretária de Energia e Mineração do Estado, Marisa Maia de Barros, e representantes das secretarias estaduais de Agricultura e Abastecimento, Ricardo Rosário, e da Invest SP, Agência de Promoção de Investimentos do Estado de São Paulo, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Claudio Makarovsky. O tema central foi: “Ações do Estado de São Paulo para a transição energética e o uso de GNL e BioGNL”.

O deputado José de Moura Júnior, presidente da Comissão de Infraestrutura da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, reforçou a importância do gás natural como vetor de transição energética. “O GNL tem papel estratégico na segurança energética nacional, pois é um combustível de menor impacto ambiental, com alto poder calorífico e que pode atender tanto à demanda industrial quanto à mobilidade pesada. Precisamos de marcos legais consistentes e previsíveis, que garantam segurança jurídica aos investidores e assegurem competitividade ao mercado”, destacou Moura Júnior.

Já o superintendente do IPEM-SP, Marcos Heleno Guerson de Oliveira Junior, enfatizou que o seminário nasce de uma demanda técnica concreta: a necessidade de estabelecer parâmetros metrológicos adequados e integrados para o GNL no Brasil, especialmente no que diz respeito à medição em condições criogênicas, fundamentais para a comercialização segura e eficiente do insumo. “A metrologia legal tem um papel estruturante para o funcionamento dos mercados de energia. No caso do GNL, estamos falando de medições que envolvem volumes líquidos a temperaturas de -160 °C. Garantir exatidão e rastreabilidade metrológica nessas condições é essencial para a confiança nas transações comerciais e na regulação de consumo”, afirmou Guerson.

O seminário abordou a expansão do GNL como alternativa viável ao diesel e ao gás natural comprimido (GNC) em aplicações de transporte rodoviário de carga e em setores industriais não atendidos por dutos. Com o avanço da infraestrutura de liquefação e distribuição por meio de carretas criogênicas, o GNL passa a desempenhar um papel relevante na interiorização do gás no Brasil. Um dos principais desafios apontados pelos debatedores foi a padronização de procedimentos de medição e verificação da qualidade do gás em toda a cadeia, incluindo o transporte, o armazenamento e o abastecimento veicular.

Painéis técnicos discutiram ainda o estado da arte dos instrumentos de medição volumétrica para GNL, os modelos internacionais de certificação metrológica e os obstáculos normativos para o uso do GNL como combustível veicular. Representantes da ANP, Inmetro, Comgás, Naturgy, Scania e universidades compartilharam estudos, casos de aplicação e propostas de regulamentação, indicando a urgência de atualizações no marco regulatório brasileiro.

Entre os destaques, esteve a apresentação de soluções embarcadas em caminhões movidos a GNL já operando em corredores logísticos estratégicos do estado de São Paulo, demonstrando não apenas viabilidade econômica, mas significativa redução de emissões atmosféricas — incluindo gases de efeito estufa e material particulado. O uso do GNL como combustível em termelétricas móveis e no transporte marítimo de curta distância também foi citado como promissor, especialmente diante das exigências internacionais de descarbonização do setor naval.

Outro ponto amplamente debatido foi a carência de infraestrutura metrológica adequada à calibração de instrumentos em ambientes criogênicos. A ausência de laboratórios acreditados no país para testes em GNL impõe barreiras técnicas ao crescimento do mercado. A partir disso, o IPEM-SP sinalizou a intenção de liderar esforços para o desenvolvimento de estruturas de ensaio e certificação alinhadas às diretrizes da Organização Internacional de Metrologia Legal (OIML).

A iniciativa reforça o protagonismo de São Paulo na formulação de políticas públicas voltadas à modernização energética e à eficiência regulatória. O seminário não apenas abriu espaço para a troca de experiências entre os diversos elos da cadeia de gás natural, como também estabeleceu bases para a construção de um ambiente técnico-normativo mais robusto e sintonizado com as exigências do mercado global.

Ao final do evento, foi anunciada a produção de um relatório técnico com os principais encaminhamentos e recomendações do seminário, que deverá subsidiar futuras deliberações da ANP, do Inmetro e dos legislativos estadual e federal. A expectativa é de que o conteúdo sirva de base para uma agenda contínua de desenvolvimento regulatório, capacitação técnica e integração de esforços entre Estado, mercado e sociedade.

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