Por Sérgio Rebêlo
O debate sobre o futuro da mobilidade tem sido historicamente dominado por comparações diretas entre tecnologias de propulsão, focando predominantemente em métricas técnicas como eficiência energética, autonomia, tempo de abastecimento, e indicadores ambientais como emissões de CO₂ e pegada de carbono. Embora essas análises sejam fundamentais e tenham orientado decisões importantes de investimento e políticas públicas, elas capturam apenas uma fração da complexidade competitiva que define o verdadeiro potencial de cada alternativa tecnológica no mercado automotivo brasileiro.
Este artigo adota uma perspectiva analítica que pretende ampliar o debate em torno do tema: em vez de comparar meramente veículos de combustão interna versus veículos elétricos como produtos isolados, propomos examinar e contrastar os ecossistemas completos que sustentam cada uma dessas tecnologias.
Esta perspectiva ecossistêmica revela que a competitividade futura no setor automotivo brasileiro será determinada não apenas por qual tecnologia é objetivamente “melhor” em métricas isoladas, mas por qual ecossistema demonstra maior capacidade de:
-Adaptação Dinâmica: Responder rapidamente a mudanças nas preferências dos consumidores, regulamentações governamentais e desenvolvimentos tecnológicos.
-Criação de Valor Contínua: Gerar novas fontes de receita e diferenciação além da venda inicial do veículo.
-Resiliência Sistêmica: Manter competitividade mesmo quando componentes individuais enfrentam desafios ou obsolescência.
-Escalabilidade Sustentável: Expandir eficientemente para novos mercados, segmentos e aplicações.
Fundamentos Teóricos de Estratégias de Ecossistemas
Conceitos e definições
O termo “ecossistema de negócios” foi cunhado por James F. Moore em 1993, inspirado nos ecossistemas biológicos, para descrever redes de organizações e indivíduos que coevoluem suas capacidades e papéis, alinhando-se em torno de uma direção estabelecida por uma ou mais empresas centrais. Diferentemente das cadeias de suprimentos tradicionais ou alianças estratégicas, os ecossistemas de negócios são caracterizados por um alto grau de interdependência entre seus participantes, fronteiras fluidas e uma dinâmica de competição e cooperação simultâneas.
De acordo com pesquisas do MIT Sloan, um ecossistema de negócios pode ser definido como “um grupo dinâmico de entidades econômicas largamente independentes que trabalham juntas para criar e entregar soluções coerentes aos clientes”. Esta definição enfatiza três elementos fundamentais: a independência relativa dos participantes, a coordenação de suas atividades e o objetivo comum de criar valor para os consumidores.
A Harvard Business Review amplia este conceito ao destacar que os ecossistemas bem- sucedidos não apenas conectam diferentes atores, mas também criam novas propostas de valor que nenhuma empresa poderia oferecer isoladamente. Neste sentido, os ecossistemas transcendem as limitações das empresas individuais e dos setores tradicionais, permitindo a criação de soluções integradas que respondem a necessidades complexas dos consumidores.
As estratégias de ecossistemas de negócios emergiram como um paradigma fundamental na gestão empresarial contemporânea, transformando radicalmente a maneira como as organizações competem, colaboram e criam valor. Diferentemente dos modelos tradicionais de negócios, os ecossistemas representam redes dinâmicas de entidades econômicas interdependentes que trabalham de forma coordenada para oferecer soluções integradas aos consumidores.
Neste contexto de transformação, o comportamento do consumidor assume um papel cada vez mais central como agente influenciador dessas estratégias. As mudanças nas expectativas, preferências e padrões de consumo não apenas moldam a evolução dos ecossistemas existentes, mas também impulsionam o surgimento de novos arranjos e configurações de mercado.
Ecossistemas “Combustão Interna” e “Elétricos”
Este artigo tem como objetivo explorar as estratégias de ecossistemas com especial enfoque na análise de “dois ecossistemas”do setor automotivo , aqui denominados e definidos como “ecossistema de veículos leves combustão interna” e “ecossistema de veículos leves elétricos”.
Ecossistema de “Combustão Interna” :
Este ecossistema inclui veículos que não necessitam de recarga externa de energia elétrica para seu funcionamento: – Veículos movidos exclusivamente a gasolina – Veículos movidos exclusivamente a álcool (etanol) – Veículos flex (gasolina/etanol) – e Veículos híbridos leves (MHEV – Mild Hybrid Electric Vehicles), que possuem assistência elétrica mas não necessitam de recarga externa.
Ecossistema de “Veículos Elétricos”:
Este ecossistema inclui veículos que demandam energia elétrica externa para seu abastecimento: – Veículos 100% elétricos (BEV – Battery Electric Vehicles) – Veículos híbridos plug-in (PHEV – Plug-in Hybrid Electric Vehicles), que combinam motor a combustão com motor elétrico e necessitam de recarga externa.
Ao longo das próximas seções, serão apresentados os fundamentos teóricos das estratégias de ecossistemas, a evolução do comportamento do consumidor como força transformadora, e as particularidades , desafios e oportunidades para o desenvolvimento estratégico de cada um desses ecossistemas.
O Comportamento do Consumidor como Agente Influenciador
Transformações recentes no comportamento do consumidor
Nos últimos anos, o comportamento do consumidor passou por transformações profundas que têm redefinido as estratégias empresariais em diversos setores. Conforme destacado pela MIT Sloan Management Review Brasil, “de três anos para cá, o consumidor transformou sua relação com as empresas e vem mudando de forma acelerada e constante os valores e as expectativas que tem em relação a produtos e serviços. Suas demandas se tornaram mais complexas.”
Estas transformações são impulsionadas por múltiplos fatores, incluindo a digitalização acelerada, mudanças demográficas, preocupações ambientais crescentes e, mais recentemente, os impactos da pandemia global. O consumidor contemporâneo é mais informado, conectado e exigente, buscando não apenas produtos e serviços de qualidade, mas experiências significativas e alinhamento com seus valores pessoais.
Pesquisas da EY Future Consumer Index, citadas pela MIT Sloan Review Brasil, revelam tendências significativas no comportamento do consumidor brasileiro:
91% estão preocupados com suas finanças, indicando que o preço tem grande impacto nas decisões de compra
46% estão buscando novas marcas para reduzir custos 62% pretendem gastar mais com experiências
61% afirmam que comprar e se comportar de forma sustentável é um princípio orientador em sua vida cotidiana
Estas tendências aparentemente contraditórias ilustram a complexidade do consumidor atual no setor automotivo –consumidores hesitam diante do alto custo inicial dos elétricos mas simultaneamente demonstram disposição para investir nessa nova tecnologia por seus benefícios sustentáveis e experenciais – e os desafios que as empresas enfrentam para atender suas expectativas multifacetadas.
Tendências de consumo e suas implicações para ecossistemas
Diversas tendências de consumo estão moldando a evolução dos ecossistemas de negócios, com implicações particulares para o setor automotivo:
- Economia de acesso vs. propriedade: Consumidores, especialmente das gerações mais jovens, estão cada vez mais interessados em acessar produtos e serviços sem necessariamente possuí-los. Esta tendência tem impulsionado o desenvolvimento de ecossistemas de mobilidade que integram diferentes modalidades de transporte, incluindo serviços de compartilhamento de veículos e assinaturas de automóveis.
- Hiperconectividade: A expectativa de estar constantemente conectado está transformando produtos tradicionalmente “offline” em nós de redes digitais. No setor automotivo, veículos conectados geram dados que alimentam ecossistemas mais amplos, permitindo serviços personalizados, manutenção preditiva e experiências de entretenimento integradas.
- Consumo consciente: A crescente preocupação com sustentabilidade está impulsionando a demanda por veículos elétricos e soluções de mobilidade com menor impacto ambiental. Ecossistemas que integram infraestrutura de recarga, energia renovável e serviços de mobilidade sustentável estão ganhando relevância.
- Personalização em escala: Consumidores esperam produtos e serviços que atendam suas necessidades específicas, mesmo em categorias tradicionalmente padronizadas. No setor automotivo, isto se manifesta na demanda por veículos e experiências de mobilidade altamente personalizáveis.
- Convergência online-offline: As fronteiras entre experiências digitais e físicas estão se tornando cada vez mais fluidas. Ecossistemas automotivos bem- sucedidos estão integrando canais digitais e físicos em jornadas de cliente coerentes e contínuas.
- Confiança e segurança: Em um mundo de crescente complexidade e incerteza, a confiança torna-se um fator decisivo nas escolhas dos consumidores. Ecossistemas que estabelecem reputação de confiabilidade, transparência e segurança tendem a atrair e reter consumidores.
- Relação custo-benefício: Apesar da importância de fatores como experiência e sustentabilidade, o valor percebido continua sendo fundamental. Ecossistemas bem-sucedidos conseguem oferecer propostas de valor que justificam seu custo, – seja através de funcionalidades superiores, experiências diferenciadas ou benefícios emocionais.
Estas tendências têm implicações profundas para as estratégias de ecossistemas “ combustão interna “ e “ elétricos “, com implicações assimétricas para diferentes aspectos das experiências e percepções do consumidor.
Vantagens Competitivas do Ecossistema de Combustão Interna(VCIs): Os ecossistemas de combustão interna mantêm vantagens significativas em oferta e infraestrutura estabelecidas e acessiveis – além de diversidade de ofertantes ao longo de toda a cadeia de valor . Na conveniência e integração, a infraestrutura amplamente disponível e granularizada de abastecimento, tempo e previsibilidade de reabastecimento e autonomia superior proporcionam flexibilidade operacional incomparável. A convergência online-offline pode aproveitar a rede física estabelecida de concessionárias para criar experiências híbridas diferenciadas. Na personalização em escala, o ecossistema maduro de modificações físicas oferece opções extensas de customização mecânica e estética. A relação custo-benefício favorece VCIs (combustão interna) no curto prazo, com custos iniciais menores e mercado secundário estabelecido com depreciação relativamente previsivel .Em sustentabilidade ,a solução de híbridos leves com etanol é superior ou equivalente aos elétricos em métricas como emissões de CO2 , embora essa vantagem nao seja totalmente reconhecida pelo consumidor.
Vantagens Competitivas do Ecossistema de Veículos Elétricos(Ves): Os ecossistemas de veículos elétricos demonstram superioridade em tendências relacionadas à digitalização e sustentabilidade. Na economia de acesso versus propriedade, os custos operacionais significativamente menores tornam os VEs naturalmente adequados para modelos de compartilhamento e assinatura. A hiperconectividade é uma vantagem nativa, com arquitetura eletrônica projetada para integração digital avançada, atualizações OTA e serviços bidirecionais de energia. O consumo consciente alinha-se perfeitamente com zero emissões locais e potencial de integração com energia renovável e limpa além de independência( oferta e preços) de commodities agrícolas “voláteis”(biocombustíveis). Na personalização em escala, os VEs se destacam na customização via software e evolução contínua através de atualizações. A relação custo-benefício favorece VEs no longo prazo, especialmente para usuários de alta quilometragem em centros urbanos de alta densidade demográfica e disponibilidade de pontos públicos de carregamento, com custos de manutenção 30-50% menores.
A competitividade futura desses ecosistemas dependerá da capacidade de adaptação a essas tendências. O ponto de partida para o desenvolvimento de qualquer ecossistema deve ser sempre entender a necessidade real do cliente. Esta orientação para o consumidor é o que distingue ecossistemas verdadeiramente bem-sucedidos daqueles que falham em criar valor sustentável. Nesse sentido , os ecossistemas de combustão interna tem a oportunidade de acelerar a digitalização, otimizar eficiência através de tecnologias híbridas e biocombustíveis, e transformar modelos de negócio para incluir serviços de acesso, além de garantir e reforçar precepção de qualidade e confiança na rede de infraestrutura de abastecimento (combate a sonegação, adulteração de combustíveis, entre outros) . Os ecossistemas de veículos elétricos devem focar na redução de custos iniciais, expansão e diversificaçao dos ofertantes de veículos e componentes e da infraestrutura de recarga, desenvolvimento de ecossistemas de serviços digitais e educação do mercado sobre benefícios de longo prazo.
Comparação e Contraste entre os Ecossistemas de Veículos Elétricos e de Combustão Interna no Brasil: Evidências de Maturidade versus Construção
Infraestrutura: Capilaridade Consolidada versus Crescimento Inicial
A comparação entre as infraestruturas de suporte para veículos elétricos e de combustão interna no Brasil revela contrastes significativos que evidenciam os diferentes estágios de maturidade destes ecossistemas.
Infraestrutura de Abastecimento para Veículos de Combustão: Presença Nacional Consolidada
O ecossistema de veículos de combustão interna conta com uma infraestrutura estabelecida ao longo de décadas, com números que demonstram sua solidez:
- Cerca de 45 mil postos de combustíveis distribuídos por todo o território nacional (ANP, 2024)
- Presença em 99,8% dos municípios brasileiros, garantindo cobertura nacional
- 360 usinas produtoras de etanol com capacidade de produção anual superior a 35 bilhões de litros
- 19 refinarias de petróleo com capacidade de processamento de 2,4 milhões de barris/dia
- 500 km de dutos e 55 terminais de armazenamento dedicados à logística de combustíveis
Esta infraestrutura representa um investimento acumulado de décadas, estimado em mais de R$ 300 bilhões, segundo dados da ANP e do Sindicom, demonstrando a maturidade e solidez deste ecossistema.
Infraestrutura de Recarga para Veículos Elétricos: Crescimento Acelerado, mas Limitado
Em contraste, a infraestrutura pública de recarga para veículos elétricos embora em rápida expansão, ainda apresenta números que evidenciam seu estágio inicial de desenvolvimento:
- Cerca de 12 mil eletropostos públicos em todo o Brasil (ABVE, novembro/2024) ;
- Presença em menos de 10% dos municípios brasileiros, concentrados principalmente em capitais e grandes cidades
- Crescimento de 180% em relação ao ano anterior, indicando evolução acelerada, mas a partir de uma base pequena
- Concentração geográfica: 70% dos pontos de recarga públicos estão nas regiões Sul e Sudeste
- Cerca de 50.000 a 70.000 carregadores residenciais instalados ( estimativa FactorK)
A comparação numérica é reveladora: enquanto há um posto de combustível para cada 1.430 veículos a combustão, existe hum eletroposto( público) para cada 21 veículos elétricos em circulação no país. Esta proporção, embora aparentemente favorável aos veículos elétricos, reflete na verdade o estágio inicial do mercado, com poucos veículos e infraestrutura pública ainda em desenvolvimento.O alto número de carregadores residenciais demonstra também a orientação do consumidor para o uso de alternativa privada – conveniencia , segurança e custo benefício.
Produção Local: Autossuficiência versus Dependência de Importação
A análise da produção local de componentes críticos para ambos os ecossistemas revela diferenças fundamentais em termos de autonomia tecnológica e industrial.
Produção Local para Veículos de Combustão: Cadeia Completa e Autossuficiente
O ecossistema de combustão interna no Brasil apresenta uma cadeia produtiva completa e majoritariamente autossuficiente:
- Óleos Básicos para lubrificantes : Produção local de 000 m³/ano pela Petrobras e 180 milhões de litros/ano pela Lwart, além de dezenas de rerrefinadores de óleos básicos , atendendo parte expressiva da demanda nacional
- Lubrificantes : mais de 200 fornecedores locais , 120 plantas de lubrificantes
- Etanol: Produção de 35,6 bilhões de litros na safra 2023/2024, com autossuficiência e capacidade exportadora , embora dependente ( oferta e preços) de commodities agrícolas “voláteis”
- Autopeças: Mais de 500 fabricantes nacionais produzindo desde componentes básicos até sistemas complexos
- Índice de Nacionalização: Veículos a combustão produzidos no Brasil atingem índices entre 65% e 85%
Esta autossuficiência em componentes críticos tende a garantir , asseguradas condiçoes de crescimento da oferta do etanol , a preços compaíveis , segurança na cadeia de suprimentos, menor vulnerabilidade a flutuações cambiais e maior geração de valor agregado na economia nacional .
Produção Local para Veículos Elétricos: Dependência de Importações
Em contraste, o ecossistema de veículos elétricos apresenta alta dependência de importações para componentes críticos:
- Baterias: Produção local limitada, com a maior parte importada
- Motores Elétricos de Alta Eficiência: Produção local limitada, com a maioria sendo importada
- Sistemas de Gerenciamento de Bateria (BMS): Praticamente 100% importados
- Índice de Nacionalização: Veículos elétricos produzidos no Brasil raramente ultrapassam 30-40% de conteúdo local
Esta dependência de importações tem implicações significativas: Maior vulnerabilidade a flutuações cambiais ; Preços mais elevados devido a impostos de importação e custos logísticos ; Menor geração de empregos qualificados na cadeia produtiva local ; Limitações no desenvolvimento de know-how tecnológico nacional.
OEMs e Montadoras: Presença Consolidada versus Entrada Recente
A comparação entre as montadoras (OEMs) de veículos a combustão e elétricos revela diferenças marcantes em termos de presença, diversidade ,capacidade produtiva e investimentos.
Montadoras de Veículos a Combustão: Presença Histórica e Capacidade Robusta
O ecossistema de veículos de combustão interna conta com:
- 26 fabricantes , de origens diversas , com produção local estabelecida (ANFAVEA, 2024)
- 61 plantas industriais distribuídas em 10 estados brasileiros
- Capacidade instalada de 4,5 milhões de unidades por ano
- Volume de produção de 2,3 milhões de veículos em 2023
- Investimentos de R$ 70 bilhões nos últimos 5 anos
- Presença histórica: Algumas montadoras com mais de 60 anos de operação no Brasil
Esta presença consolidada representa não apenas capacidade produtiva, mas também diversidade de ofertantes , acúmulo de conhecimento, desenvolvimento de fornecedores locais e integração com a economia nacional.
Montadoras de Veículos Elétricos: Entrada Recente e Capacidade Limitada
Em contraste, o ecossistema de veículos elétricos apresenta:
- Apenas 3 fabricantes com produção local de veículos elétricos ou híbridos (BYD, GWM , ambas Chinesas , e pequenas iniciativas como Bravo Motor e MoviEletric)
- Plantas industriais em fase inicial de operação ou adaptação
- Capacidade instalada limitada, ainda em desenvolvimento
- Volume de produção incipiente, com a maioria dos veículos elétricos vendidos no Brasil sendo importada
- Investimentos anunciados de aproximadamente R$ 15 bilhões, principalmente da BYD e GWM, mas ainda em fase de implementação
Esta diferença reflete o estágio inicial do ecossistema de veículos elétricos no Brasil, com montadoras de origem chinesa( concentração de origem) principalmente ainda estabelecendo suas operações e desenvolvendo cadeias de fornecimento locais.
Rede de Concessionárias: Capilaridade Nacional versus Presença Limitada
A rede de concessionárias representa um dos indicadores mais claros da maturidade e alcance de cada ecossistema.
Concessionárias de Veículos a Combustão: Presença Nacional Consolidada
O ecossistema de veículos de combustão interna conta com uma rede de concessionárias madura e capilarizada:
- Mais de 500 concessionárias de diversas montadoras , de diferentes origens , em operação no Brasil (Fenabrave, 2024)
- Presença em mais de 800 municípios brasileiros
- Redes estabelecidas: Fiat (500+), Volkswagen (450+), Chevrolet (400+), Toyota (250+), Hyundai (220+)
- 000 empregos diretos gerados pela rede de concessionárias
- Faturamento anual de R$ 380 bilhões, incluindo vendas de veículos novos, usados e serviços
Esta rede consolidada garante acesso a vendas, serviços e suporte em praticamente todo o território nacional, representando um dos principais ativos do ecossistema de combustão interna.
Concessionárias de Veículos Elétricos: Presença Urbana Limitada
Em contraste, a rede de concessionárias para veículos elétricos apresenta alcance significativamente menor:
- Aproximadamente 300 concessionárias dedicadas a veículos elétricos em todo o Brasil
- BYD: cerca de 180 concessionárias
- GWM: aproximadamente 60 pontos de venda
- Outras marcas: presença ainda mais limitada
- Concentração em capitais e grandes cidades, com pouca ou nenhuma presença em cidades médias e pequenas
Esta limitação na rede de concessionárias tem implicações diretas para o consumidor: – Menor acesso a test-drives e demonstrações – Dificuldade de atendimento em regiões afastadas dos grandes centros – Limitações no suporte pós-venda
Rede de Assistência Técnica: Ubiquidade versus Escassez
A disponibilidade de serviços de manutenção e reparo representa um dos contrastes mais significativos entre os dois ecossistemas.
Oficinas para Veículos a Combustão: Presença Universal
O ecossistema de veículos de combustão interna conta com uma rede de assistência técnica abrangente e qualificada:
- Entre 000 e 100.000 oficinas mecânicas em operação no Brasil
- Presença em 99% dos municípios brasileiros
- 000 empregos diretos gerados pelo setor de reparação automotiva
- Faturamento anual de R$ 128 bilhões
- Mais de 1 milhão de mecânicos e técnicos qualificados para trabalhar com veículos a combustão
- 000 lojas de autopeças distribuídas por todo o país
Esta rede de suporte técnico representa uma das principais vantagens competitivas do ecossistema de combustão interna, garantindo tranquilidade e confiança aos consumidores em relação à manutenção e longevidade de seus veículos.
Oficinas para Veículos Elétricos: Escassez e Concentração
Em contraste, o ecossistema de veículos elétricos enfrenta limitações significativas na rede de assistência técnica:
- Menos de 500 oficinas com capacitação técnica e equipamentos adequados para manutenção de veículos elétricos
- Concentração em capitais e grandes centros urbanos
- Escassez de mecânicos e técnicos treinados para trabalhar com veículos elétricos
- Poucas instituições de ensino oferecendo formação específica para manutenção de veículos elétricos
- Cadeia de suprimentos limitada para peças e componentes específicos
Esta limitação na rede de assistência técnica tem consequências diretas para os proprietários de veículos elétricos: – Tempos de reparo prolongados – Custos de manutenção imprevisíveis – Desvalorização acelerada no mercado secundário – Limitações geográficas no uso de veículos elétricos
Impacto Econômico e Social: Pilar Econômico versus Setor Emergente
A comparação do impacto econômico e social dos dois ecossistemas revela diferenças de escala que evidenciam seus diferentes estágios de desenvolvimento.
Ecossistema de Combustão Interna: Pilar da Economia Nacional
O ecossistema de veículos de combustão interna representa um dos setores mais importantes da economia brasileira:
- 20% do PIB industrial brasileiro e 2,5% do PIB total
- 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos
- R$ 80 bilhões em impostos arrecadados anualmente
- R$ 14 bilhões em investimentos anuais nos últimos 5 anos
- Presença em 10 estados brasileiros, contribuindo para o desenvolvimento regional
- Integração com o agronegócio através do setor sucroenergético
Estes indicadores demonstram a relevância estratégica do ecossistema de combustão interna para a economia brasileira, representando um setor estabelecido, resiliente e com ampla capilaridade nacional.
Ecossistema de Veículos Elétricos: Setor Emergente com Potencial
Em contraste, o ecossistema de veículos elétricos, embora em crescimento, ainda representa uma parcela pequena da economia:
- Menos de 0,5% do PIB industrial brasileiro
- Aproximadamente 30.000 empregos diretos relacionados à eletromobilidade
- Investimentos anunciados de R$ 15 bilhões, principalmente da BYD e GWM, mas ainda em fase de implementação
- Concentração geográfica limitada, principalmente em São Paulo, Bahia e algumas capitais
- Integração limitada com outros setores da economia nacional
Embora o potencial de crescimento seja significativo, os números atuais evidenciam o estágio inicial de desenvolvimento deste ecossistema no Brasil.
Políticas Públicas: Arcabouço Consolidado versus Incentivos Pontuais
A análise das políticas públicas para ambos os ecossistemas revela diferenças significativas em termos de abrangência, estabilidade e previsibilidade.
Políticas para Veículos de Combustão: Arcabouço Estável e de Longo Prazo
O ecossistema de veículos de combustão interna no Brasil é amparado por políticas públicas estabelecidas e de longo prazo:
- Proálcool: Mais de 45 anos de existência, estabelecendo as bases para a matriz energética diversificada
- Política de adição de biocombustíveis: Mandatos estáveis para etanol (27%) e biodiesel (12%) previsão do Inmetro para (etanol) e de 14 a 15% (biodiesel) nos próximos 5 anos
- RenovaBio: Sistema de certificação e créditos de descarbonização com metas até 2030
- Programa Combustível do Futuro: Visão de longo prazo para combustíveis sustentáveis
- Rota 2030/Mover: Incentivos fiscais para eficiência energética e redução de emissões
Estas políticas estabelecem um ambiente regulatório estável e previsível, fundamental para investimentos de longo prazo e desenvolvimento contínuo do setor.
Políticas para Veículos Elétricos: Incentivos Pontuais e Limitados
Em contraste, as políticas específicas para veículos elétricos são mais recentes e menos abrangentes:
- Redução temporária do Imposto de Importação: Medida pontual, sem garantia de continuidade
- Isenção ou redução de IPVA em alguns estados: Políticas locais, sem coordenação nacional
- Isenção de rodízio em algumas cidades: Medidas municipais isoladas
- Ausência de uma política nacional abrangente para eletromobilidade
- Falta de metas claras de eletrificação e incentivos estruturados
Esta diferença no arcabouço regulatório reflete a maturidade do ecossistema de combustão interna e o estágio ainda inicial do ecossistema de veículos elétricos no Brasil.
Análise Comparativa dos Ecossistemas de “Combustão Interna” e de “Veículos Elétricos”
Aspecto | Ecossistema de Combustão Interna | Ecossistema de Veículos Elétricos | Proporção/ Diferença |
Frota Circulante por Categoria (2024) | Total: ~ 64,5 milhões veículos | Total: ~ 250 mil veículos | 258:1 |
Automóveis (Veículos Leves de Passageiros) | ~ 39,0 milhões
unidades (60% da frota total) |
~205 mil unidades (117 mil híbridos
plug-in e 88 mil elétricos) |
190:1 |
Comerciais Leves |
~ 6,4 milhões unidades (10% da frota total) | Incluídos na categoria automóveis | N/A |
Aspecto | Ecossistema de Combustão Interna | Ecossistema de Veículos Elétricos | Proporção/ Diferença |
Caminhões | ~ 2,2 milhões
unidades (3% da frota total) |
Aproximadamente
1.000 unidades |
2.200:1 |
Ônibus | ~ 400 mil unidades (1% da frota total) | Aproximadamente
1.000 unidades |
400:1 |
Motocicletas | ~ 16,5 milhões unidades (26% da frota total) | Aproximadamente 40 mil unidades | 413:1 |
Participação na
Frota Total |
99,6% | 0,4% | 249:1 |
Infraestrutura de Abastecimento/ Recarga | ~ 45 mil postos de combustíveis
|
~ 12 mil eletropostos públicos
~50.000-70.000 residenciais
|
3,8:1
(publicos) |
Cobertura Territorial | Presente em 99,8% dos municípios brasileiros | Presente em menos de 10% dos municípios( públicos) |
10:1 |
Montadoras com Produção Local | 26 fabricantes de difertentes origens – Estados Unidos; Europa; Asia, (“diversidade” oferta) com 61 plantas industriais | 3 fabricantes (2 chineses) com plantas em operação ou implementação (“concentração” oferta) |
8,7:1 |
Montadoras do Ecossistema Elétrico com Plantas Locais |
N/A |
BYD: Fábrica em Camaçari (BA) – produção de elétricos puros e híbridos plug- in
GWM: Fábrica em Iracemápolis (SP) – produção de híbridos plug-in Lecar: Fabricante nacional com planta em Sooretama (ES) – produção de híbridos plug-in |
N/A |
20:1 |
Aspecto | Ecossistema de Combustão Interna | Ecossistema de Veículos Elétricos | Proporção/ Diferença |
Fabricantes de Autopeças/ Componentes | Aproximadamente 500 empresas associadas ao Sindipeças, com 95% focadas em componentes para combustão (diversificado) |
Menos de 25 empresas com produção específica para veículos elétricos (concentrado) |
|
Principais Empresas de Autopeças para Veículos Elétricos no Brasil |
N/A |
WEG: Produção de motores elétricos, inversores e sistemas de propulsão em Jaraguá do Sul (SC) Moura: Produção de baterias de lítio para veículos híbridos e elétricos em Belo Jardim (PE)
Marelli: Componentes eletrônicos e sistemas de gerenciamento térmico Bosch: Sistemas eletrônicos e componentes para eletrificação ZF: Sistemas de transmissão para veículos elétricos |
N/A |
Capacidade Produtiva Instalada | 4,5 milhões de unidades/ano | 170 mil unidades/ano |
26:1 |
Concessionárias | Mais de 3.500 em todo o país (diversificado) | Aproximadamente 250 (concentrado) |
14:1 |
Oficinas Especializadas | Entre 60.000 e 100.000 (diversificado) | Menos de 500 (concentrado) |
120:1 |
Aspecto | Ecossistema de Combustão Interna | Ecossistema de Veículos Elétricos | Proporção/ Diferença |
Profissionais Qualificados | Mais de 1 milhão de mecânicos e técnicos | Menos de 5.000 técnicos especializados |
200:1 |
Empregos Gerados | 1,5
milhão,“Diretos+Indiretos” |
35 mil ( projetado ) | 43:1 |
Participação no PIB Industrial (Indústria de Transformação) | 20% (ref. a 2019) | Menos de 0,5% | 40:1 |
Investimentos Acumulados | Mais de R$ 300 bilhões | Aproximadamente R$ 20 bilhões | 15:1 |
Índice de Nacionalização | 65-85% | 30-40% | 2:1 |
Emissões de CO₂e (kg,CO2 EQ por 240km) |
HEV com EtOH:29 (Híbrido com Etanol)
ICE Flex com EtOH:37 HEV com Gasolina Brasil :80 ICE com Gasolina Brasil(27%EtOH):131 |
BEV(Matriz Brasil energia limpa):35
BEV(Matriz Europa):54 |
HEV(Híbrido com Etanol) com menores emissões
1:1.2 |
Produção Local de Componentes Críticos |
Produção autosuficencia em etanol (Crescimento da área plantada, custo e preço incertos)
Óleos básicos: 425.000 m³/ano (Petrobras) Rerrefino: 180 milhões de litros/ano (Lwart) |
Baterias: produção de baterias de lítio para veículos pesados em expansão por BYD e WEG |
N/A |
Logística Reversa Estabelecida | Sim, há mais de 18 anos | Em desenvolvimento | N/A |
Taxa de Coleta/ Reciclagem | ~ 50% dos óleos lubrificantes usados
5.500 toneladas de embalagens plásticas/ ano |
Não mensurada para baterias |
N/A |
Aspecto | Ecossistema de Combustão Interna | Ecossistema de Veículos Elétricos | Proporção/ Diferença |
Abrangência da Logística Reversa |
Presente em todos os estados
Mais de 4.000 municípios atendidos |
Iniciativas isoladas sem coordenação nacional |
N/A |
Infraestrutura de Reciclagem |
15 plantas de rerrefino 42 centrais de
recebimento de embalagens |
Inexistente em escala comercial para baterias |
N/A |
Marco Regulatório para Resíduos |
OLUC -Resolução CONAMA nº 362/2005
Política Nacional de Residuos Sólidos Lei Nr 12.305/2010 Lei dos Crimes Ambientais Embalagens-Resolução CONAMA nr 465/2014 , diversas portarias interminesteriais com estabelecimento de metas progressivas de coleta |
Ausência de legislação específica para baterias de lítio |
N/A |
Políticas Públicas Específicas |
Proálcool (45+ anos) RenovaBio Combustível do Futuro
Rota 2030/Mover |
Incentivos pontuais e não coordenados Ausência de política nacional |
N/A |
Disponibilidade de Peças e Componentes | >50.000 lojas de autopeças
Entrega em 24-48h em todo o país |
Dependência de importação. Tempos de entrega prolongados |
N/A |
Tempo de
Estabelecimento no Brasil |
Mais de 70 anos | Menos de 10 anos |
7:1 |
Acessibilidade Econômica |
Ampla gama de preços, com modelos a partir de R$ 70 mil | Modelos mais acessíveis a partir de R$ 100 mil |
1,4:1 |
Custo Total de Propriedade | Estabelecido e previsível | Ainda incerto devido à desvalorização e custos de
manutenção imprevisíveis |
N/A |
A tabela acima evidencia que, no contexto brasileiro atual, o ecossistema de combustão interna (incluindo híbridos leves) apresenta indicadores de maturidade significativamente superiores ao ecossistema de veículos elétricos (elétricos puros e híbridos plug-in) em praticamente todos os aspectos estruturais e de suporte, além de superior em termos ambientais (menor emissão CO2 HEV com etanol) e de impacto social e econômica. A análise da frota por categoria (automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas) reforça essa disparidade, com proporções que variam de 190:1 para automóveis até mais de 2.200:1 para caminhões.
O ecossistema elétrico demonstra vantagens em termos de emissões de CO₂ (frente a alternativa de combustíveis fósseis) e independência de commodities agrícolas voláteis, e está em fase de rápida expansão, com investimentos significativos de montadoras como BYD e GWM, além do desenvolvimento de fornecedores locais como WEG . Isso sugere que a transição energética no setor automotivo brasileiro deverá seguir um ritmo próprio, possivelmente mais gradual que em mercados desenvolvidos, com coexistência prolongada entre as tecnologias.
Conclusões: Evidências de um Ecossistema Consolidado versus um Ecossistema em Construção
A análise comparativa detalhada dos ecossistemas de veículos elétricos e de combustão interna (inclusive híbridos leves) no Brasil, fundamentada em dados quantitativos e qualitativos de fontes oficiais, permite concluir com segurança que:
Ecossistema de Combustão Interna: Solidez e Prosperidade Estabelecida
O ecossistema de veículos de combustão interna no Brasil apresenta todas as características de um setor maduro, resiliente e próspero:
- Cadeia Produtiva Completa: Desde a produção de matérias-primas (fósseis e etanol; óleos básicos e lubrificantes) até a fabricação de veículos, com alto índice de nacionalização.
- Infraestrutura Abrangente: Rede de abastecimento presente em 99,8% dos municípios brasileiros, garantindo segurança energética e conveniência.
- Suporte Técnico Capilarizado: Ampla rede de oficinas e concessionárias distribuídas por todo o território nacional, com profissionais qualificados e acesso a peças e
- Impacto Econômico Significativo: Geração de mais de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos e contribuição de cerca de 20% para o PIB industrial
- Políticas Públicas Consolidadas: Arcabouço regulatório estável e de longo prazo, garantindo previsibilidade para
- Vantagens Ambientais Únicas: Integração com biocombustíveis, permitindo significativa redução de emissões mesmo com tecnologia de combustão
Ecossistema de Veículos Elétricos: Potencial em Construção
Em contraste, o ecossistema de veículos elétricos no Brasil apresenta características de um setor em estágio inicial de desenvolvimento:
- Cadeia Produtiva Incompleta: Ausência de produção local de componentes críticos como baterias, dependência de importações e baixo índice de nacionalização.
- Infraestrutura Limitada: Rede de recarga em rápido crescimento, mas ainda restrita a menos de 10% dos municípios brasileiros e concentrada em grandes centros
- Suporte Técnico Escasso: Relativamente poucas oficinas especializadas, escassez de profissionais qualificados e limitações na disponibilidade de peças e
- Impacto Econômico Emergente: Geração de aproximadamente 000 empregos diretos e contribuição ainda limitada para o PIB industrial.
- Políticas Públicas Incipientes: Ausência de uma política nacional abrangente e de longo prazo para eletromobilidade.
- Desafios de Acessibilidade: Preços elevados e limitações de infraestrutura restringindo o acesso a uma parcela pequena da população.
Estas evidências demonstram que, no contexto brasileiro atual, o ecossistema de veículos de combustão interna é sólido e próspero, e tem potencial para inclusive ser arpimorado, enquanto o ecossistema de veículos elétricos, embora com potencial significativo, ainda está em fase de construção e desenvolvimento.
Esta realidade sugere que, diferentemente de mercados desenvolvidos onde a eletrificação avança rapidamente, o Brasil deverá experimentar uma transição mais gradual e híbrida, aproveitando as vantagens comparativas de seu ecossistema de combustão interna (especialmente a integração com biocombustíveis) enquanto desenvolve progressivamente seu ecossistema de veículos elétricos.
Sérgio Rebêlo é Sócio-Diretor da FactorK, consultoria, com ênfase em estratégia, programas de internacionalização e fusões e aquisições. Administrator de Empresas pela EAESP-FGV, com MBA pela EAESP/FGV Brasil e OneMba -Kenan-Flagler Business School (Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill); EGADE (Tecnologico de Monterey/ Graduate School of Business Administration); Erasmus School of Business/ Rotterdam School of Management and The Chinese University of Hong Kong. Membro do Beta Gamma Sigma Society. • Palestrante em eventos nas áreas de óleos básicos e lubrificantes: ICIS PanAmerican; ICIS London; Lubgrax; AEA; Encontro com o Mercado – Lubes em Foco.Diretor Financeiro (Probono) do Museu de Arte Moderna de São Paulo entre 2019 e 2022.