Por Rinaldi Campos
O esporte a motor, um dos segmentos mais técnicos e dinâmicos do universo esportivo, passa por um momento de crescimento expressivo. De acordo com um relatório produzido pela Business Research Insight, o mercado global de motorsport, avaliado em US$ 7,9 bilhões em 2024, deve atingir US$ 18,76 bilhões até 2033, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 10,07% entre 2025 e 2033. Em um ambiente de forte expansão e elevada exigência tecnológica, a busca por desempenho máximo impõe uma atenção rigorosa não apenas aos motores e às estruturas dos veículos, mas também a componentes menos evidentes para o público, como os lubrificantes. Sua função vai além da simples redução de atrito, contribui para a preservação da potência, a proteção contra desgaste e a eficiência térmica, elementos que impactam diretamente o desempenho em pista.
O desenvolvimento de lubrificantes para o automobilismo prioriza formulações projetadas para suportar condições extremas de temperatura, pressão e velocidade. Essa necessidade impulsionou a indústria a investir em bases sintéticas de alta pureza, pacotes de aditivos específicos e tecnologias que oferecem estabilidade térmica superior, resistência ao cisalhamento e proteção contra a formação de depósitos. Cada elemento da formulação é ajustado para atender aos requisitos técnicos de motores e sistemas de transmissão que operam sob condições severas.
Nos últimos anos, a evolução dos óleos básicos e dos aditivos permitiu a melhoria da estabilidade em altas temperaturas, o aumento da vida útil dos sistemas mecânicos e a compatibilidade com novos materiais utilizados em motores modernos. Essa evolução não apenas elevou o patamar de performance dos veículos de competição, mas também garantiu maior confiabilidade em regimes prolongados de alta exigência, como em corridas de resistência e em provas realizadas sob temperaturas elevadas, além de levar maior qualidade e desempenhos aos modelos utilizados nas ruas.
Personalização e eficiência técnica no esporte a motor
A personalização dos lubrificantes no automobilismo tornou-se prática comum, considerando as especificidades de cada projeto e das condições operacionais de cada competição. A definição da viscosidade ideal, a escolha dos aditivos e a adaptação da formulação conforme o tipo de combustível, as folgas internas dos motores e o regime de funcionamento esperado são fatores analisados com precisão técnica. Essa customização busca maximizar a eficiência energética, minimizar o desgaste dos componentes e manter o desempenho ao longo de toda a prova.
O impacto do lubrificante no resultado esportivo é objetivo e mensurável. A redução do atrito interno melhora a entrega de potência, enquanto o controle térmico e a resistência ao desgaste preservam a integridade dos motores e sistemas de transmissão. Em condições extremas, como temperaturas elevadas e longas durações de prova, a eficiência da formulação utilizada é determinante para assegurar a consistência de performance. Por outro lado, a utilização de lubrificantes inadequados pode acelerar processos de desgaste, comprometer a eficiência térmica e levar a falhas mecânicas que inviabilizam a continuidade na competição, assim como acontece também nos veículos tradicionais.
A evolução dos lubrificantes para o esporte a motor também incorpora preocupações ambientais. O desenvolvimento de produtos que utilizam matérias-primas de menor impacto ambiental e que contribuem para a redução do consumo de combustíveis e da emissão de poluentes é uma tendência consolidada. Os lubrificantes sintéticos, em especial, se destacam nesse cenário, combinando alta estabilidade em condições severas com benefícios ambientais relevantes, como menor formação de resíduos e maior eficiência energética.
Inovação contínua e novos desafios
Apesar dos avanços tecnológicos, ainda persistem concepções equivocadas em relação ao uso de lubrificantes, inclusive em ambientes competitivos. Ideias como a de que “todos os óleos são iguais” ou de que “óleos mais viscosos são melhores para motores desgastados” não encontram respaldo técnico. No esporte a motor, a escolha precisa do lubrificante, baseada em especificações rigorosas de desempenho e compatibilidade, é um fator crítico para a preservação da eficiência e da confiabilidade dos equipamentos.
O futuro do desenvolvimento de lubrificantes impõe novos desafios. A evolução dos motores, cada vez mais compactos, leves e operando sob regimes de alta eficiência, demanda lubrificantes com características técnicas ainda mais sofisticadas. A adaptação às mudanças nos combustíveis, como o aumento do teor de biocombustíveis, exige produtos com formulações específicas capazes de garantir proteção e desempenho. Além disso, o alinhamento entre motores, combustíveis e lubrificantes se tornará cada vez mais importante em um cenário de crescente pressão por sustentabilidade e eficiência energética.
Reconhecer a importância dos lubrificantes no esporte a motor é compreender uma dimensão essencial da engenharia de competição. Ainda que discretos e pouco visíveis ao olhar externo, esses componentes exercem influência decisiva sobre a performance, a confiabilidade e a durabilidade dos sistemas mecânicos, consolidando-se como elementos técnicos estratégicos em um ambiente onde a excelência é construída sobre a precisão de cada escolha.
Rinaldi Campos é Coordenador de Desenvolvimento de Negócios do Aftermarket da FUCHS, maior fabricante independente de lubrificantes e produtos relacionados do mundo.
A opinião desse artigo não representa, necessariamente, a opinião da Revista Petrus