Por Roberto James*
Nos últimos meses, o que mais tem sido discutido é o preço dos combustíveis. Parece uma discussão sem fim. O governo reduz impostos, e o diesel sobe. A população protesta nos postos, exigindo nota fiscal para forçar a redução do preço, mas o produto é tributado na fonte, o que não resolve nada. Os governadores, quando questionados, apresentam meias-verdades, alegando que as alíquotas estão congeladas há anos. O que fazer? Por que a gasolina é tão cara no Brasil?
Primeiro, é preciso desmistificar a ideia de que a gasolina é excessivamente cara. Vivemos em um país que exporta commodities e importa quase tudo da indústria e da tecnologia. Isso já demonstra que tudo no Brasil sempre foi caro, é caro e sempre será. Qualquer país com essa balança comercial terá seus preços indexados ou parcialmente dependentes dos preços internacionais e da cotação do dólar. Não existe fórmula mágica.
Produtos como laranja, trigo, café e cana-de-açúcar são regidos por preços internacionais. Quando o produtor tem liberdade de preço, vende para quem pagar mais. Não há preocupação social na pecuária, na agricultura ou em outros setores. Vimos isso na crise aviária da China, quando os preços do frango dispararam.
Cabe ao governo federal buscar formas de regular o mercado para proteger o consumidor. Antigamente, os governos compravam produção para manter preços altos e evitar a quebra do agronegócio. A interferência deve ter um viés social para equilibrar oferta e demanda. Por que, no mercado de combustíveis, deveria ser diferente? A população espera que a Petrobras controle preços, mas será que entende os impactos dessa decisão? O liberalismo econômico realmente é a melhor solução?
Governos anteriores usaram a Petrobras para controlar preços, não pela população, mas para conter a inflação. O país pagou caro por isso. Quando a estatal vendeu ações e manteve controle governamental, o discurso era “o petróleo é nosso”. Depois, veio a defesa do livre mercado. Essa incoerência confunde o consumidor e reflete na percepção sobre a intervenção da Petrobras.
O Brasil tem algumas das maiores taxas portuárias do mundo, altos custos de transporte, passagens aéreas e serviços telefônicos caros. Mesmo com diversas fontes de energia, pagamos um preço altíssimo pela eletricidade. Algum consumidor viu preços reduzirem progressivamente? Não! Tudo aumenta. A renda é baixa, a distribuição é ruim, o ensino é caro e excludente. O ensino federal é gratuito? Não, ele é pago pelo contribuinte e exige investimento em preparação.
Os serviços públicos urbanos são caros, ineficientes e de baixa qualidade. Então, por que a gasolina deveria ser barata? A falta de um plano efetivo para reduzir o custo Brasil mantém o país apagando incêndios desde a redemocratização.
Não se reduzem preços por decreto. Toda ação tem reação. O mercado livre sofre impactos imprevisíveis. Precisamos de investimento externo, mas diferenciado entre produtivo e especulativo. O governo deve ter expertise para atrair investimentos de qualidade.
Se houver entrada de capital e aumento na produção, serão gerados empregos, a renda crescerá e a economia girará. Então, por que isso não acontece no Brasil? Porque não nos preparamos para expandir a produção. Faltam energia, mão de obra qualificada e infraestrutura para reduzir custos. Assim, o crescimento precisa ser freado para conter a inflação.
Não podemos discutir a redução da gasolina de forma simplista sem risco de nos tornarmos uma Venezuela. Toda a estrutura que encarece nossos preços precisa ser reformulada. Os impostos poderiam ser menores se os serviços públicos fossem mais eficientes. Tudo está interligado. Impostos altos deveriam resultar em serviços de qualidade, melhorando a produtividade e fortalecendo a indústria.
Parece um sonho? Não. Muitos países conseguiram. O Brasil também pode.
*Roberto James é mestre em psicologia, especialista em comportamento de consumo e em criação de estratégias de vendas. Palestrante e autor dos livros O consumidor tem pressa: corra com ele ou corra atrás dele e Vivendo o varejo americano : uma viagem no coração do consumo.