Petrobras quer ‘ser grande’ em etanol e adia eólicas offshore

O horizonte de um menor consumo de gasolina no longo prazo fez a Petrobras decidir pela volta à produção de etanol, setor com o qual a empresa flertou por algum tempo, mas do qual saiu totalmente ao mesmo tempo que cresciam os investimentos no pré-sal.

De acordo com o diretor de Sustentabilidade e Transição Energética da estatal, Mauricio Tolmasquim, a Petrobras “quer ser grande” no biocombustível, podendo chegar a produzir 2 bilhões de litros por ano, enquanto os projetos de eólicas offshore (em altomar), para produzir energia elétrica, foram adiados, devido à falta de um marco para o setor, explicou o diretor.

Já a presidente da estatal, Magda Chambriard, afirmou que a decisão de voltar ao setor segue a busca da diversificação de fontes, e que o etanol está no DNA da empresa. “Ressalto que é aí (etanol) onde está o DNA importante para nós, onde já temos infraestrutura instalada. Antes estávamos falando mais só no elétron (energia elétrica). Já temos tancagem, estrutura instalada para lidar com a molécula (do etanol). Estamos voltando para o etanol”, disse Magda, que com Tolmasquim e a diretoria da empresa participou ontem de eventos na Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) para divulgar o seu Plano Estratégico 2025-2029.

SAF. Ainda segundo Magda, a

“Ressalto que é aí (etanol) onde está o DNA importante para nós, onde já temos infraestrutura. Antes estávamos falando mais só no elétron (energia elétrica). Já temos tancagem, estrutura instalada. Estamos voltando para o etanol”

Magda Chambriard Presidente da Petrobras

conclusão do plano estratégico foi que a empresa precisava reforçar investimento em molécula. “Não podemos ficar só no elétron. Diversificação de fontes é mandatório para nós”, continuou. A presidente da Petrobras lembrou que a estatal entrou na produção de etanol na década de 1970 e saiu “recentemente”. “Hoje o etanol é o principal competidor da gasolina em um País com frota flex. Além disso, o etanol funciona como um pontapé inicial para o SAF (combustível sustentável de aviação, na sigla em inglês) e outros combustíveis, como biogás.”

Ainda em fase preliminar, as conversas com parceiros do setor vêm avançando, explicou Tolmasquim, que ainda não definiu a matéria-prima a ser perseguida. “Se for milho, será Centro-Oeste; se for cana-deaçúcar será São Paulo”, informou em entrevista coletiva, sem antecipar com quais parceiros está conversando.

Pessoas que acompanham as negociações disseram ao Estadão/Broadcast que a ideia é deixar de fora as petroleiras que possuem esses ativos, como Shell/Cosan (Raízen) e BP. Em seu plano estratégico, a empresa reservou US$ 2,2 bilhões para investimentos em etanol.

“Começamos a conversar com grandes produtores de etanol no País. Queremos começar grande, estamos olhando cana, mas também milho”, afirmou, ressaltando que o etanol é “um investimento muito rentável”, com retorno acima dos 10% previstos para o setor no plano da empresa.

A Petrobras mantém conversas com a Inpasa Agroindustrial para retornar à produção de etanol, disseram pessoas com conhecimento do assunto. A empresa é a maior produtora de etanol de milho da América Latina, com unidades em Sinop (MT), Nova Mutum (MT) e Dourados (MS), além de atividades no Paraguai.

INVESTIMENTO. O plano de negócios da Petrobras para 2025 a 2029 e o pagamento de R$ 20 bilhões em dividendos anunciados na quinta-feira são importantes para reduzir os riscos da tese de investimentos da estatal, avalia o UBS BB em relatório. Para os analistas Matheus Enfeldt, Tasso Vasconcellos e Victor Modanese, a Petrobras é uma das melhores opções no setor.

Na visão do UBS, preocupações do mercado relacionadas à governança provavelmente continuarão gerando ruídos. No entanto, o histórico recente da empresa serve como garantia, com a manutenção da política de preços e alocação racional de capital, eles escreveram, em relatório.

Ontem, as ações ON da estatal fecharam em alta de 5,23%, enquanto os papéis PN subiram 3,98%. A empresa recuperou em um dia R$ 23,4 bilhões em valor de mercado, alcançando R$ 541,5 bilhões. •

Fonte: O Estado de S.Paulo