Coamo pretende investir R$ 300 milhões em planta de biodiesel

De olho nas possibilidades trazidas pelo projeto Combustível do Futuro, uma empresa de peso deve se juntar em breve ao mercado do biodiesel: a paranaense Coamo, maior cooperativa agroindustrial do Brasil.

Em entrevista ao AgFeed durante o Kepler Weber Day, evento realizado na terça-feira, 26, o presidente executivo da Coamo, Airton Galinari, disse que a cooperativa está perto de aprovar uma usina produtora de biodiesel a partir da soja no Paraná. A iniciativa vai custar cerca de R$ 300 milhões.

A ideia é que o projeto seja apresentado primeiro no conselho da cooperativa, no mês que vem, e siga para apreciação dos cooperados na próxima assembleia geral da Coamo, que ocorre em fevereiro. “É uma ideia que ainda estamos estudando, mas o estudo já está bem avançado. É um projeto grande, que depende puramente da viabilidade”, afirma Galinari.

A cidade escolhida para sediar a nova usina é Paranaguá, no litoral paranaense, onde a Coamo já possui, junto ao porto local, uma indústria capaz de processar 2 mil toneladas de soja por dia.

A cooperativa possui ainda plantas de processamento de soja em sua cidade-sede, Campo Mourão, com capacidade de processar 3 mil toneladas de soja por dia, e em Dourados, no Mato Grosso do Sul, com a mesma capacidade produtiva.

Se os planos se concretizarem, a unidade produtora de biodiesel pode estar rodando já em 2026. “É uma obra de 12 a 14 meses. Aprovando em fevereiro do ano que vem, ficaria pronta junto com a usina de etanol de milho”, afirma Galinari.

A escolha da unidade de Paranaguá em detrimento das demais plantas foi pela disponibilidade de óleo bruto na indústria, segundo o presidente executivo da Coamo. “Nas outras indústrias que temos, em Dourados e em Campo Mourão, já usamos 100% da soja para refino, para produção de óleo em embalagem para o varejo, para margarina e gorduras. Já em Paranaguá, o óleo não é refinado, é bruto, e vamos transformá-lo em biodiesel”, afirma Galinari.

A Coamo vai usar apenas soja para a produção de biodiesel e não pretende usar trigo ou canola, diferentemente de empresas do Rio Grande do Sul, como a 3tentos, que vai começar a usar a canola para produzir biodiesel a partir do ano que vem. “Nós até tentamos a canola, mas tem que ter um trabalho muito grande de pesquisa. Não é você pegar uma canola do Canadá ou da Europa, que vai trazer para cá e vai dar certo”, afirma Galinari.

O projeto Combustível do Futuro, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no começo de outubro, motivou a Coamo a idealizar o projeto. O plano do governo federal prevê um cronograma de aumento progressivo na mistura de biodiesel no diesel comum, hoje de 14%, subindo um ponto percentual a partir do ano que vem, até chegar a 20% em março de 2030.

“A cada 1% a mais de biodiesel que você acrescenta no diesel, você precisa de mais indústrias operando. Como o Combustível do Futuro trouxe o B20, que é a mistura de 20% até 2030, vai crescer muito mais a demanda por biodiesel no mercado”, afirma Galinari.

Enquanto a fábrica de biodiesel segue no papel, a Coamo se prepara para começar a construir sua usina de etanol de milho, anunciada há um ano, e que deve ficar pronta em 2026. Recentemente, a cooperativa conseguiu um financiamento de R$ 500 milhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para erguer a planta que vai produzir o biocombustível, um projeto orçado em R$ 1,6 bilhão ao todo.

Outro investimento da Coamo a ser executado no ano que vem e que também corre em paralelo envolve a construção de um terminal marítimo em Itapoá, em Santa Catarina, que vai custar R$ 1 bilhão à cooperativa e terá quatro piers, frente de 450 metros para o mar e calado de 18,5 metros.

Os projetos já estão sendo feitos, mas a Coamo aguarda ainda o licenciamento ambiental para começar a obra, que Galinari estima que saia até 2027. “Tem várias frentes que a gente precisa percorrer, a frente ambiental, a frente das agências reguladoras, das prefeituras, do governo estadual, da secretaria do patrimônio da União. Todas essas frentes estão sendo percorridas para que a gente possa obter a licença de instalação”, afirma o presidente executivo da cooperativa.

Preço da soja afetou 2024

A Coamo deve fechar 2024 com um faturamento em torno de R$ 29 bilhões, menor que os R$ 30,3 bilhões registrados no ano passado, acompanhando uma tendência do mercado, segundo Galinari.

“De um modo geral, as cooperativas, e não só as cooperativas, mas as empresas do agro tendem a ter um faturamento menor este ano”, afirma o presidente executivo da Coamo. “E não é porque vendeu ou negociou menos, mas é por causa do preço da soja, que caiu, na nossa região, de R$ 135 para R$ 115, o que representa uma queda de cerca de 15%, e dos insumos, que caiu em torno de 20%”, emenda.

Ainda assim, Galinari considera o resultado do ano como positivo. “Nós vamos ter margens muito próximas do que nós tradicionalmente temos, e agora em dezembro, já vamos ter a primeira antecipação de sobras aos cooperados”, afirma.

Para 2025, o presidente executivo da Coamo espera que a cooperativa atinja desempenho recorde de grãos recebidos, cerca de 10,5 milhões de toneladas de soja, milho e trigo, mais alto que o último pico, de 10,2 milhões de toneladas, registrado em 2022. “”Temos tudo para ultrapassar esse recorde, se o clima ajudar. Temos uma safra de verão que foi implantada com uma ótima janela para o plantio do milho de segunda safra”, afirma Galinari.

O desempenho das vendas de insumos, em especial, empolgou o presidente-executivo da Coamo. Galinari explica que a companhia fornece insumos para o produtor através de planos, um para o verão e outro para safrinha e inverno. O plano para a safrinha, que se encerrou na semana passada, registrou crescimento de 15% nas vendas de insumos, seguindo um movimento de alta que já tinha acontecido no verão, segundo Galinari.

O presidente executivo da Coamo acredita que o incremento nas vendas tenha a ver com a crise nas revendas de insumos, especialmente o grupo AgroGalaxy, que entrou em recuperação judicial em setembro, mas também de empresas como a Lavoro, que passou a registrar prejuízos em seus últimos balanços.

Em reportagem sobre a reorganização do segmento de distribuição de insumos publicada dias após a recuperação judicial do AgroGalaxy, o AgFeed apontou que uma das tendências desse novo momento era o crescimento das cooperativas agrícolas, tomando parte da clientela que antes comprava dos chamados grupos consolidadores. “O pessoal fica com medo de não receber, não negocia direto com eles”, afirma Galinari.

(Jornalismo1)

Fonte: RPA News