O mercado de biodiesel passa por um momento bastante tumultuado. Países como Suíça, Países Baixos e Bélgica estão absorvendo o volume de exportações de biodiesel brasileiro em 2024 e compensando a forte queda da demanda dos Estados Unidos neste ano. As exportações brasileiras totalizaram 58.159t entre janeiro e agosto deste ano, um crescimento de 13,4pc em relação ao mesmo período em 2023.
No entanto, o Brasil vem sofrendo com os efeitos climáticos, o que vem impactando diretamente a produção de soja, principal matéria-prima do biodiesel. Para o especialista em biodiesel da Argus Media, Amance Boutin, o aumento nas exportações é uma questão de contratos de longo prazo firmado entre produtores brasileiros e compradores da Europa.
Ele conta que houve um deslocamento da demanda externa dos Estados Unidos para a Europa. As exportações brasileiras totalizaram 58.159t entre janeiro e agosto deste ano, um crescimento de 13,4pc em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2023, os EUA importaram 53.529t de biodiesel brasileiro, mas tudo mudou com a adoção do diesel renovável como um substituto para o biodiesel no país.
Segundo Amance, a convicção de que o elevado volume do produto sendo enviado para a Europa, se deve ao fato do mercado brasileiro estar remunerando melhor. “Existe uma dificuldade em achar matéria-prima. Estamos em uma situação de escassez, o que faz o produtor priorizar seus clientes históricos, no mercado interno, ao invés de exportar. Apesar disto tem um residual que vai ser exportado, em sua maioria, a partir de usinas localizadas em São Paulo.”
O Brasil tem exportado produto 100% de óleo de soja e 100% de ácidos graxos. Esse produto, embora pouco apreciado no Brasil, tem valor na Europa, por ser originado de resíduo da fabricação do biodiesel tradicional, logo, não compete com o alimento.
O diesel renovável, que está em alta nos Estados Unidos, tem as mesmas propriedades químicas do produto fóssil, o que faz com que ele possa ser misturado ao diesel em qualquer porcentagem ou até mesmo ser utilizado como um substituto. Diante desta nova realidade, não foram registradas exportações com destino aos EUA nos primeiros oito meses deste ano.
Ainda é cedo, entretanto, para cravar que o volume exportado crescerá em relação ao ano anterior, uma vez que o último trimestre de 2023 foi o período no qual os EUA mais importaram biodiesel do Brasil no ano passado, totalizando 33.818t – mais do que o volume exportado para a Suíça nos oito primeiros meses do ano.
Além da questão da falta de matéria-prima, o especialista explica que exportar exige muito trabalho para manter para que ele não oxide, o que acaba elevando os custos. “Ele vai embutir esses custos e vai acabar não valendo a pena. Vale mais direcionar o produto para o mercado interno.”
Amance Boutin comenta que as chuvas no Sul e a seca no Mato Grosso, estão impactando demais a produção de soja, o que vai elevando o preço do produto. Ainda não é possível dizer que tais fatores poderão comprometer o cronograma de elevação do percentual do biodiesel no diesel.
“Estamos falando de um biocombustível que é dependente de rendimentos agrícolas, ou seja, do clima. O biodiesel já é mais caro que o diesel. Você aumenta o percentual e tem uma quebra dessas, é claro que vai ter um impacto.” Ele comenta que a precificação é bimestral e baseada no preço do óleo de soja, mais a margem de produção. “Já aumentou bastante nesse último bimestre, e agora em novembro/dezembro as usinas estão falando que terão que aumentar. Somado a tudo isso, a Argentina também vem sofrendo com a seca na bacia hidrográfica do Rio Paraná. “É um problema não apenas brasileiro, mas regional.”