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IPCA-15 desacelera a 0,13% e fica abaixo das projeções em setembro

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) surpreendeu analistas ao perder força e registrar inflação menor do que a esperada em setembro, segundo dados divulgados nesta quarta (25) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A alta dos preços foi de 0,13%, bem abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,28%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,18% a 0,33%.

O IPCA-15 tinha mostrado avanço de 0,19% em agosto. A taxa de 0,13% é a menor para meses de setembro desde 2022, quando houve baixa (deflação) de 0,37%.

Com o novo resultado, o IPCA-15 desacelerou a 4,12% no acumulado de 12 meses. O patamar era de 4,35% na divulgação anterior.

Por ser divulgado antes, o indicador sinaliza uma tendência para os preços no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o índice oficial de inflação do Brasil.

Segundo o economista Fábio Romão, da consultoria LCA, uma gama de bens e serviços veio com variações abaixo das esperadas no IPCA-15 de setembro, o que explica a diferença em relação às projeções. Ele cita, por exemplo, cigarro, passagem aérea, gasolina e artigos de residência.

Para o IPCA de setembro, que será conhecido em 9 de outubro, a LCA projeta alta de 0,47%.

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que o IPCA-15 ainda não captou o impacto total da bandeira vermelha patamar 1, que pressiona as contas de luz neste mês.

Assim, o IPCA fechado deve ser maior, refletindo também fatores como o aumento gradual dos preços de alimentos como as carnes, indica Vale.

A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, destacou que a desaceleração do IPCA-15 atingiu vários componentes e gerou surpresas em serviços subjacentes, que excluem itens mais voláteis.

Passagens aéreas, alimentação no domicílio, bens industriais e preços monitorados também vieram abaixo do esperado, segundo ela.

“O IPCA-15 de setembro veio significativamente abaixo da nossa expectativa e com abertura bem melhor do que a esperada, especialmente em função da surpresa baixista em serviços subjacentes”, diz relatório do Itaú, assinado pela economista Luciana Rabelo.

“Parte da surpresa baixista pode ser atribuída a volatilidade de itens específicos, como cinema e seguro de veículos”, acrescenta.

Conta de luz pressiona

Dos 9 grupos de produtos e serviços do IPCA-15, 7 tiveram alta de preços em setembro. A maior variação e o principal impacto vieram de habitação (0,5% e 0,08 ponto percentual).

O segmento teve influência da energia elétrica residencial, pressionada pela bandeira vermelha patamar 1 neste mês. A variação da energia passou de queda de 0,42% em agosto para alta de 0,84% em setembro.

Outro destaque veio do grupo alimentação e bebidas, que registrou leve aumento (0,05% e 0,01 ponto percentual) após dois meses de queda.

A alimentação no domicílio, que integra esse ramo, teve variação de -0,01% em setembro. O dado mostra um recuo bem menos intenso do que o verificado no mês anterior (-1,3%).

O IBGE destacou as baixas da cebola (-21,88%), da batata-inglesa (-13,45%) e do tomate (-10,7%), enquanto mamão (30,02%), banana-prata (7,29%) e café moído (3,32%) ficaram mais caros.

A alimentação fora do domicílio, por sua vez, seguiu em alta em setembro (0,22%), mas em um ritmo menos acelerado do que em agosto (0,49%),

Economistas dizem que a crise climática pode pressionar a inflação de parte dos alimentos e da energia elétrica nos próximos meses. O país vive seca de proporções históricas e avanço de queimadas.

Gasolina alivia índice

O grupo de transportes, por outro lado, mostrou redução de 0,08% no IPCA-15 de setembro, após alta de 0,83% em agosto. Assim, ajudou a aliviar o índice deste mês, com impacto de -0,02 ponto percentual.

O resultado de transportes foi influenciado pela gasolina, que teve baixa de 0,66%. O combustível é o principal subitem do IPCA-15.

O etanol (-1,22%) também recuou, enquanto o gás veicular (2,94%) e o óleo diesel (0,18%) apresentaram altas. As passagens aéreas registraram aumento de 4,51%.

Para o economista André Perfeito, o resultado do IPCA-15 não pode ser interpretado como “perene”.

Perfeito diz que o custo da energia deve subir mais com a bandeira vermelha e que os alimentos também tendem a sofrer com questões climáticas. Apesar disso, ele avalia que o índice deve trazer certo alívio para leituras mais pessimistas de inflação no curto prazo.

Individualmente, energia elétrica, mamão e passagem aérea mostraram o principal impacto do lado das altas no IPCA-15 de setembro (0,03 ponto percentual cada).

Entre as quedas, os destaques foram cebola (-0,05 ponto percentual), batata-inglesa (-0,04), gasolina (-0,03) e cinema, teatro e concertos (-0,03).

IPCA e meta de inflação

O IPCA, também calculado pelo IBGE, serve como referência para o regime de metas perseguido pelo BC (Banco Central). O centro da meta de inflação é de 3% em 2024.

A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Ou seja, o objetivo será cumprido pelo BC caso o índice fique no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) nos 12 meses até dezembro.

A expectativa do mercado financeiro é de variação de 4,37% para o IPCA no acumulado do ano, conforme o boletim Focus divulgado na segunda (23), antes do IPCA-15. A estimativa segue abaixo do teto da meta (4,5%), mas vem em trajetória de alta nas últimas dez semanas.

Em meio a esse cenário, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual na semana passada, de 10,5% para 10,75% ao ano.

O economista Igor Cadilhac, do PicPay, diz que a melhora da inflação corrente no IPCA-15 é bem-vinda, mas não deve modificar as preocupações da autoridade monetária em relação a expectativas futuras.

“Olhando à frente, mantemos nossa projeção de 4,4% para 2024, mas, após a surpresa de setembro, o viés altista se converte para baixista”, afirma.

O IBGE coleta os preços do IPCA-15 entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação. Desta vez, a apuração ocorreu de 15 de agosto a 13 de setembro.

A coleta do IPCA, por sua vez, está concentrada no mês de referência do levantamento. Por isso, o resultado de setembro ainda não está fechado.

Crise no IBGE

O IBGE vive crise interna que ficou explícita nos últimos dias. Servidores reclamam de suposta falta de diálogo com o presidente do instituto, o economista Marcio Pochmann, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O sindicato dos trabalhadores da casa agendou para esta quinta (26) um protesto contra o que chamou de “medidas autoritárias” de Pochmann. Ele rebateu as acusações.

Fonte: Folha de São Paulo