A Petrobras assinou, na terça-feira (6/8), um protocolo de intenções com o Governo do Estado e a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), para estudos de projetos de captura, armazenamento e utilização de carbono (CCUS) e hidrogênio azul (reforma do gás natural com CCUS) na região.
A intenção é avaliar a viabilidade para implantação de um hub de CCUS e facilidades para produção de hidrogênio para descarbonização das indústrias do estado, informa a estatal.
Mais do que descarbonizar as próprias operações, a Petrobras vê a captura de CO2 como uma nova oportunidade de negócio. Em maio de 2023, a companhia anunciou um projeto piloto a partir do terminal de Cabiúnas, em Macaé (RJ), uma das bases da principal província petrolífera do país, para testar a solução como serviço.
No Espírito Santo, o objetivo é combinar a demanda industrial, a infraestrutura da petroleira e seu conhecimento geológico da bacia da região.
“Existe um planejamento inicial para instalação dos equipamentos de movimentação de CO2 em áreas próximas ao litoral capixaba, bem como na porção marítima para se chegar aos reservatórios de armazenamento. A Petrobras será responsável pelos investimentos em dutos, estações de compressão e poços para armazenamento do CO2, e futuramente pela operação deste Hub”, explica o comunicado.
A empresa afirma ainda que já firmou parcerias com empresas locais para viabilizar os projetos de CCUS.
Uma delas é com a produtora de aços ArcelorMittal. No final de fevereiro, as duas assinaram um Memorando de Entendimento (MoU, na sigla em inglês) para estudar potenciais modelos de negócios em torno de um hub de captura de carbono.
As companhias querem identificar oportunidades comerciais e possíveis colaborações no Brasil que estejam alinhadas às estratégias de diversificação da matriz e descarbonização.
250 MT de CO2 por ano
A Petrobras estima que o Brasil é capaz de estocar, anualmente, 250 milhões de toneladas de CO2 em aquíferos salinos ao longo de 50 anos. O volume corresponde a cinco vezes as emissões anuais das operações da estatal, que são de cerca de 50 milhões de toneladas.
“Se mostrar que é algo viável, que faz sentido, temos um novo potencial de negócio muito grande”, afirmou o diretor executivo de Transição Energética, Maurício Tolmasquim, durante um evento no final de junho.
Um dos vetores para que este negócio cresça é o mercado regulado de carbono, cujo projeto de lei está no Senado, aguardando acordo entre relatores para ir a Plenário.
Já no caso do hidrogênio, cujo marco legal foi sancionado na última semana, a petroleira passou a incluir os incentivos fiscais que estavam previstos nos cálculos de viabilidade dos projetos.
Vale dizer: os incentivos ao hidrogênio de baixo carbono foram vetados pelo presidente Lula (PT) devido a mudanças de última hora na votação do texto no Congresso que suprimiram trechos que disciplinavam a natureza dos créditos. Um novo projeto de lei foi enviado pelo governo ao Congresso Nacional para restabelecer a concessão de créditos fiscais de R$ 18,3 bilhões.
O marco legal sancionado traz, entre outros pontos, a definição de hidrogênio de baixo carbono com um generoso teto de emissões de 7 kgCO2/H2.
Hoje, 94% do hidrogênio fornecido no mundo é obtido a partir da reforma de gás natural, também conhecido como hidrogênio cinza. Ele é considerado de alta emissão de carbono por ter uma intensidade média de 10 kgCO2/kgH2, podendo variar para mais ou para menos. Na Austrália, por exemplo, o hidrogênio cinza tem intensidade de 8,5 kgCO2/kgH2.
Em busca de viabilidade
No mundo todo, há pouco mais de 40 instalações comerciais de CCUS em operação, aplicadas a processos industriais, produção de combustível e geração de energia, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês).
No geral, a capacidade ficou estável nos últimos três anos – isto é, não cresceu – frustrando expectativas dos que apostam nessa solução para descarbonizar setores onde é mais difícil abandonar os combustíveis fósseis.
Embora a IEA veja com otimismo o aumento de 35% nos anúncios de projetos de captura em 2023 (com previsão de entrar em operação até 2030) e de 70% na capacidade de armazenamento, o custo dos projetos continua um desafio.
Segundo a agência, a quantidade total de CO2 que poderia ser capturada em 2030 chega agora a cerca de 435 milhões de toneladas por ano, cerca de 40% do cerca de 1 Gt de CO2 por ano que precisa ser capturado e armazenado para emissões líquidas zero até 2050.
“Para todas as aplicações de CCUS, a viabilidade econômica continua sendo um obstáculo significativo, já que os custos podem ser proibitivamente altos em comparação com tecnologias não mitigadas. Além disso, longos prazos de desenvolvimento e implementação de projetos podem impedir ainda mais o progresso, particularmente relacionados ao desenvolvimento de armazenamento de CO2”, analisa.