Nos últimos meses, o preço do petróleo tem oscilado entre US$ 70 e US$ 90 por barril. Por um lado, tensões geopolíticas impulsionaram os preços para patamares próximos de US$ 90. Por outro, dados sobre a macroeconomia americana, em alguns momentos, pressionaram os preços para níveis próximos de US$ 70.
“Agora, estamos observando o inverso. O PIB americano cresceu 2,8% no segundo trimestre, enquanto a inflação, conforme dados do PCE, não mostrou um aquecimento. Ambos os indicadores reforçam a tese pelo corte de juros em setembro”, diz Victor Arduin, analista de Energia e Macroeconomia da Hedgepoint Global Markets.
O analista aponta que, contudo, os principais benchmarks do petróleo encerraram a terceira semana consecutiva em baixa. O Brent fechou a US$ 81,13, registrando uma queda de 1,82% em relação à semana anterior. Já o WTI finalizou a sessão em US$ 77,16, com uma retração de 3,71%.
A redução das importações chinesas, somada à diminuição das tensões geopolíticas no Oriente Médio em decorrência de negociações para um cessar-fogo, reduziu em parte alguns fundamentos de alta no mercado.
Neste contexto, a Hedgepoint discute quais os fundamentos de mercado têm impactado o preço do petróleo, nas últimas semanas.
Corte de juros traz fundamentos de alta para o petróleo
Nos últimos anos, uma série de fatores beneficiaram o preço do petróleo e seus derivados. As ações da OPEP+ removeram aproximadamente 5,86 milhões de barris por dia do mercado. A invasão da Ucrânia trouxe sanções à Rússia e ocasionou interrupções no fornecimento de petróleo e gás natural do país para a Europa. No ano passado, o ataque do Hamas em Israel gerou incertezas no Oriente Médio e aumentou os prêmios geopolíticos no mercado.
“Se, por um lado, esses eventos reduziram o impacto baixista da política monetária americana no mercado energético, por outro, é importante observar que juros altos dão suporte ao valor do dólar, o que, por sua vez, afeta o consumo de commodities. Como essas commodities são negociadas em dólares, tornam-se mais caras para os detentores de outras moedas”, explica Victor.
“Depois de o primeiro semestre frustrar as expectativas mais otimistas que esperavam uma redução nos juros dos EUA, o último balanço de dados alimenta as esperanças por um corte de 25 pontos base pelo Fed em setembro. Talvez como reflexo desse movimento, agentes especuladores estão aumentando suas posições compradas no mercado como mostram dados da CFTC e do ICE”, acredita.
China traz incertezas sobre expansão do consumo para 2024
O preço do petróleo registrou uma queda superior a 5% em julho, atingindo seu menor nível essa semana desde o início de junho. O principal motivo é que as importações chinesas de petróleo não mostraram crescimento em 2024, como inicialmente esperado, e, em junho, apresentaram uma queda de 6,7% em comparação com o mesmo período do ano passado.
“Outros dados trazem incertezas para o consumo de petróleo da segunda maior economia do mundo. A produção nas refinarias foi 3,7% menor na comparação anual em junho, o PMI de manufatura está abaixo de 50, indicando contração, e a crescente participação relativa dos carros elétricos na economia chinesa tem reduzido o consumo de gasolina no país. O balanço desses indicadores poderá resultar em revisões baixistas sobre a expansão no consumo por petróleo em 2024”, pontua.
E conclui: “Ainda, uma eventual administração Trump poderá trazer mudanças significativas para o mercado de petróleo. No curto prazo, sua política protecionista deverá resultar em uma atividade econômica no país mais forte, mas pode afetar o ciclo de afrouxamento da política monetária. A longo prazo, políticas que incentivem a produção doméstica de petróleo nos EUA podem alterar o equilíbrio de forças no mercado global, com potencial para pressionar os preços para baixo”.
Em resumo, a volatilidade dos preços do petróleo nos últimos anos foi impulsionada por uma combinação de fatores geopolíticos e econômicos. Enquanto as ações da OPEP+, as sanções e as tensões no Oriente Médio exerceram pressão altista, a política monetária restritiva dos EUA, ao fortalecer o dólar, limitou esses efeitos.
No entanto, um possível corte nos juros nos EUA pode reverter essa tendência. Apesar disso, outros fatores, como o alto déficit fiscal e a possibilidade de políticas protecionistas sob uma eventual administração Trump, podem amortecer os efeitos de um corte nos juros e prolongar o ciclo de alta do dólar.
Ainda, a China tem alimentado algumas incertezas no mercado energético, pois o ritmo de importações no país tem sido menor do que inicialmente esperado, enquanto desafios econômicos e aumento de carros elétricos reduzem o consumo por combustíveis no país.
Nos próximos meses, o mercado de petróleo deverá oscilar entre pressões de alta, impulsionadas por possíveis ajustes na política monetária americana, e pressões de baixa, provenientes da demanda chinesa. Ainda é provável que o segundo semestre se encerre com uma média acima de US$ 78 por barril, mas as perspectivas para o começo de 2025 são mais incertas.
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