A queda nos preços das passagens aéreas ajudou a desacelerar a inflação oficial no País em junho, juntamente com uma pressão mais branda do encarecimento dos alimentos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou o mês passado em 0,21%, ante uma alta de 0,46% em maio, divulgou nesta quarta-feira, 10, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado ficou abaixo das estimativas mais otimistas de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que previam um aumento de preços na economia entre 0,27% e 0,38%, com mediana positiva de 0,32%. A surpresa baixista eliminou os riscos de uma alta na taxa básica de juros, a Selic, ainda neste ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, opinou André Valério, economista-sênior do Banco Inter.
“Os fundamentos não demandam essa alta — é mais uma incerteza que o mercado precificou”, justificou Valério. “Temos a expectativa de início de cortes no juro nos Estados Unidos em setembro. Para os próximos meses, teremos um cenário de redução de incertezas na curva de juros e uma queda na taxa de câmbio”, estimou.
O economista do Banco Inter prevê uma manutenção na taxa Selic no atual patamar, de 10,5% ao ano, até o fim de 2024, com a perspectiva de que o Banco Central tenha condições para retomar o ciclo de cortes ao longo do primeiro trimestre de 2025.
A taxa acumulada pela inflação em 12 meses subiu a 4,23% em junho, o segundo mês consecutivo de aceleração, embora ainda no teto de tolerância (de 4,50%) da meta de inflação de 3,0% perseguida pelo Banco Central em 2024.
Tanto o Banco Bradesco quanto o Itaú Unibanco enxergaram uma dinâmica benigna na inflação no mês de junho.
“Para frente, esperamos alguma reaceleração dos serviços refletindo a conjuntura de mercado de trabalho apertado, bem como aceleração de (bens) industriais em meio ao câmbio mais depreciado”, ponderou a economista Luciana Rabelo, do departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú.
Para o próximo mês, o Bradesco espera que os reajustes de preços administrados pelo governo ganhem relevância, tanto pela cobrança extra na conta de luz pelo acionamento da bandeira tarifária amarela quanto pelos reajustes de combustíveis anunciados nas refinarias da Petrobras nesta semana.
Alimentos ainda sobem
Os preços dos alimentos deram a maior contribuição para a inflação de junho. No entanto, as altas foram mais brandas do que no mês anterior, ao mesmo tempo em que houve uma quantidade menor de itens com reajustes, apontou André Almeida, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE.
O grupo Alimentação e bebidas saiu de um aumento de 0,62% em maio para uma elevação de 0,44% em junho, sendo responsável por praticamente metade de todo o IPCA do último mês.
“Essa alta (no IPCA) foi influenciada, principalmente, por leite longa vida, batata-inglesa e gasolina”, lembrou Almeida. “Alguns fatores e subitens contribuíram para segurar o resultado de junho, como passagens aéreas e alguns alimentos, como mamão e cebola”, ponderou.
O índice de difusão do IPCA, que mostra o porcentual de itens com aumentos de preços, desceu de 57% em maio para 52% em junho. A difusão de itens alimentícios diminuiu de 60% em maio para 49% em junho.
“O maior impacto (de grupo) foi de alimentos, mas houve desaceleração em relação ao mês anterior. A gente teve uma menor difusão, principalmente, nos itens alimentícios”, frisou o pesquisador do IBGE. “Os preços dos alimentos no domicílio continuaram subindo, porém, em ritmo menos intenso que no mês anterior”, completou.
O custo da alimentação no domicílio desacelerou de uma alta de 0,66% em maio para 0,47% em junho. As famílias pagaram mais pela batata inglesa (14,49%), leite longa vida (7,43%), café moído (3,03%) e arroz (2,25%). Por outro lado, houve quedas nos preços da cenoura (-9,47%), cebola (-7,49%) e frutas (-2,62%).
“Tanto o leite longa vida quanto a batata-inglesa subiram de preço influenciados por menor oferta do produto. A menor oferta do leite está relacionada ao período de entressafra e também por um clima adverso no sul do País. Na batata-inglesa, é final da safra das águas e início da safra das secas. Esse volume da safra das secas ainda não foi tão expressivo, a oferta estava mais controlada, mais reduzida”, explicou.
A alimentação fora do domicílio aumentou 0,37% em junho. O lanche subiu 0,39%, enquanto a refeição fora de casa avançou 0,34%.
Os combustíveis subiram 0,54% em junho. Houve altas na gasolina (0,64%) e no etanol (0,34%), mas quedas no óleo diesel (-0,64%) e no gás veicular (-0,61%).
Após um aumento de 5,91% nos preços impulsionados pelos feriados em maio, as passagens aéreas ficaram 9,88% mais baratas em junho, dando a maior contribuição individual para conter a inflação no País no mês.
“Teve em maio alguns feriados, como o Corpus Christi, aí teve essa alta, e agora os preços caíram em junho”, apontou Almeida. “Os preços mais altos por conta do feriado em maio geraram uma base de comparação mais elevada, que fez com que tivesse essa queda das passagens aéreas em junho”, completou.
O transporte por aplicativo também recuou em junho: -2,81%.
A despeito das passagens aéreas e do transporte por aplicativo mais baratos, a inflação de serviços – usada como termômetro de pressões de demanda sobre os preços – teve ligeira alta de 0,04% em junho, devido a reajustes como os registrados em algumas plataformas de streaming e em serviços bancários. No acumulado em 12 meses, a inflação de serviços arrefeceu a 4,49% em junho, menor patamar desde setembro de 2021.
Já os preços de itens monitorados pelo governo aumentaram 0,33% em junho, com uma alta acumulada de 6,38% nos 12 meses encerrados em junho.
Deflação em Porto Alegre
A coleta de preços na região metropolitana de Porto Alegre para o IPCA encerrou o mês de junho normalizada, após um período de intensificação da modalidade remota em função do desastre climático no Rio Grande do Sul, informou André Almeida, do IBGE.
A inflação oficial do País, medida pelo IPCA, é decorrente de apurações de preços em 16 municípios ou regiões metropolitanas. A região metropolitana de Porto Alegre responde por um peso de 8,61% na formação da taxa do IPCA.
“De maneira geral, a gente tem um porcentual coletado na modalidade remota situando-se em 15% a 20%. Em maio, a gente teve que intensificar essa modalidade de coleta em função da calamidade no estado”, lembrou Almeida.
Em maio, 65% da coleta de preços na região metropolitana de Porto Alegre foi feita remotamente, fatia que desceu a 30% em junho.
“Em junho, a gente teve normalização da coleta. Nas duas primeiras semanas de junho, a gente teve a coleta remota ainda intensificada, situando-se em torno de 40% na primeira quinzena de junho, e normalizando na segunda quinzena. A coleta na região metropolitana de Porto Alegre está totalmente normalizada”, afirmou Almeida.
A variação de preços na região metropolitana de Porto Alegre passou de uma alta de 0,87% em maio para uma deflação de 0,14% em junho, explicada por recuos na passagem aérea (-9,62%), gás de botijão (-5,02%) e alimentos para consumo no domicílio (-0,88%).
Em maio, os preços da alimentação no domicílio tinham aumentado 3,64% em Porto Alegre, influenciados pela situação de calamidade na região, apontou Almeida.
“Ou seja, os preços continuam mais altos do que antes da situação de calamidade, porém, houve uma leve correção dos preços. Houve uma alta de 2,73% na alimentação no domicílio nesses dois meses em Porto Alegre”, explicou o pesquisador, referindo-se aos preços praticados em junho ante o patamar de abril.