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Como fugir do combustível adulterado e evitar o desgaste do motor

No último ano Como mostrou o Estadão, flagrantes de uso irregular e adulteração com o metanol, por exemplo, ficaram mais comuns

Combustível “batizado” com substâncias mais baratas, chip na bomba para cobrar mais do consumidor e postos que imitam as características de franquias mais famosas: a variedade das fraudes adotadas por organizações criminosas na venda de combustíveis é tanta que, muitas vezes, exige atenção de motoristas para que não se tornem vítimas.

Conforme a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o índice médio de conformidade dos combustíveis no País foi de 97,4% no ano passado, o que coloca a qualidade dos combustíveis no Brasil em patamares internacionais de qualidade, segundo a agência. Ainda assim, golpes continuam ocorrendo em diferentes regiões.

Como mostrou o Estadão, flagrantes de uso irregular e adulteração com o metanol, por exemplo, ficaram mais comuns no último ano. Os autos de infração relacionados à substância emitidos pela ANP atingiram, em 2023, o recorde desde que começaram a ser contabilizados, em 2017. Foram 187, alta de 73,5% ante um ano antes (108). O metanol é tóxico e traz riscos à saúde e à segurança.

Estimativa do Instituto Combustível Legal (ICL) aponta que cerca de R$ 30 bilhões são desviados por ano no setor, sendo metade em sonegação de impostos e outra metade em fraudes operacionais, como justamente vender combustíveis adulterados. Alguns dos prejuízos, porém, são difíceis de mensurar, uma vez que muitos consumidores nem sequer associam problemas no

carro ao abastecimento. Diante disso, é importante observar o veículo para saber se há algo de errado e como não escolher um posto que comercializa combustível adulterado.

Conhecer os principais tipos de fraudes também é um caminho para não se tornar mais uma vítima desses esquemas. COMBUSTÍVEL ‘BATIZADO’: MISTURA ACIMA DA PROPORÇÃO

PERMITIDA. A adulteração de combustível é talvez a principal fraude observada em postos de combustíveis, segundo autoridades ouvidas pela reportagem. No caso do álcool, uma fraude comum costuma ser o chamado “álcool molhado”, em que se mistura etanol anidro ao etanol hidratado (o etanol combustível).

A prática é proibida, uma vez que somente a gasolina pode receber adição de etanol anidro na proporção de 27% prevista na legislação vigente. Ainda assim, em alguns casos, mesmo essa quantidade também costuma ser extrapolada.

Em fiscalização da ANP no Rio de Janeiro no ano passado, como mostrou o Estadão, a amostra coletada em um posto de Niterói (RJ) indicou que a gasolina vendida por lá continha 66% de etanol anidro, mais do que o dobro do que é permitido atualmente. Já o etanol não estava só “batizado”, mas também composto por 92,1% de metanol – o limite permitido pela lei é de 0,5%.

CHIP NA BOMBA: TECNOLOGIA ENTREGA MENOS DO QUE É PAGO PELO CLIENTE. Nos golpes do chip na bomba ou “bomba baixa”, que por vezes se utilizam de tecnologias diferentes para atingir o mesmo fim, o cliente paga por uma quantidade de litros, mas o tanque recebe menos combustível. Conforme autoridades, esse tipo de fraude se sofisticou nos últimos anos, permitindo até mudar remotamente o volume de litros entregue.

Não à toa, como forma de melhorar as fiscalizações, o Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (IpemSP) anunciou no ano passado uma bomba medidora de combustível mais tecnológica que, de acordo com o órgão, deve auxiliar no treinamento de equipes para identificar fraudes no abastecimento.

O Ipem afirma que, entre outros ganhos, o equipamento permite fazer uma assinatura digital criptografada das informações movimentadas entre o medidor e os componentes eletrônicos da bomba de combustível. A ideia, ainda conforme o órgão, é estabelecer parcerias com a indústria, com o objetivo de trabalhar por melhorias de qualidade e acessibilidade de produtos e serviços.

POSTO PIRATA EMULA CORES E SINAIS DE MARCAS LÍDERES. No caso do posto pirata, tratase de estratégia mais simples e que, a depender do caso, nem sequer é considerada fraudulenta, mas que ainda assim requer atenção do consumidor.

A prática, já antiga, consiste em emular cores e aspectos visuais comuns de marcas líderes para ludibriar o consumidor de que o posto em questão é conhecido.

O problema é que, em alguns casos, isso vem acompanhado de um produto tecnicamente inferior ao referenciado ou mesmo de fraudes nos combustíveis, prejudicando o consumidor final.

Caso o cliente se sinta lesado quanto a práticas desse tipo, a orientação é procurar o Procon que atende à região. Denúncias também podem ser feitas diretamente à agência nacional (mais informações na sequência).

SONEGAÇÃO FISCAL: EMPRESAS FANTASMAS COMPRAM PRODUTO PARA FIM INDUSTRIAL. Também existem postos que, mesmo não apresentando combustível adulterado ao consumidor, sonegam impostos ou realizam processos fraudulentos para obter os insumos vendidos.

De acordo com autoridades, há quadrilhas que se aproveitam, por exemplo, de o álcool etílico hidratado, conhecido como carburante (usado nos veículos), ser basicamente o mesmo álcool para fins de indústria, só que normalmente com alíquota maior de imposto a ser pago.

Como evitar cair em fraudes

Veja principais dicas para evitar abastecer seu carro em postos com combustível adulterado

1 Desconfie de promoções com preços agressivos

Lembre-se que, em geral, valores muito abaixo dos praticados no mercado podem indicar que o estabelecimento misturou outras substâncias ao combustível vendido

2 Prefira levar seu veículo em postos de confiança

Procure abastecer em estabelecimentos já conhecidos por você. Se possível, solicite ainda nota fiscal do abastecimento, o que contribui no combate a crimes de sonegação

3 Informe-se sobre qual é o fornecedor do combustível

Fique atento a quem fornece o combustível ao posto. Mesmo em casos de ‘bandeira branca’, que não possuem uma distribuidora exclusiva, a empresa que forneceu o produto deve ser informada em cada bomba

4 Observe também o marcador da bomba

Em alguns casos, mesmo que o combustível não seja exatamente fraudado, pode haver adulteração da bomba para cobrar mais caro. Note, portanto, se o marcador está zerado antes de começar a abastecer e se a litragem corresponde ao tamanho do tanque

5 Atente-se às informações do densímetro

No caso do etanol, as bombas têm um densímetro acoplado na lateral da bomba. Trata-se de aparato que flutua dentro de uma ampulheta. Se a coluna vermelha do densímetro estiver acima do nível do líquido, é um indício de que há problemas no etanol

6 Se achar necessário, solicite um teste no posto

Ao suspeitar de algo, solicite o chamado teste da proveta, que permite saber se o combustível segue os parâmetros definidos em lei. Se achar que entrou menos combustível no tanque do que você pagou, é direito do consumidor cobrar teste de vazão

7 Em caso de desconfiança, não deixe de denunciar

Se observar inconsistências mesmo após a realização dos testes ou não se sentir à vontade para solicitá-los aos funcionários do posto, denuncie o que foi observado no local à ANP pelo site www.anp.gov.br/faleconosco ou pelo telefone 0800-9700267

No seu carro

Saiba como identificar se seu veículo teve contato com gasolina, diesel ou etanol fraudado Em geral, aspectos que indicam uma performance abaixo do normal do veículo podem ser um indício de que o carro teve contato com combustível adulterado. Além de risco de superaquecimento do veículo. Se notar aspectos desse tipo, procure um profissional especializado.

Sonda lambda

Um dos pontos que podem indicar que seu carro entrou em contato com combustível adulterado é o funcionamento da sonda lambda, sensor que mede a quantidade de combustível no gás expelido. Se ela deixar de emitir sinais para o painel do carro, pode ter sido danificada pela presença de substâncias fraudulentas.

Boia de combustível

Outro aspecto é que a presença de combustível batizado pode também oxidar a boia presente no tanque, o que torna a marcação imprecisa. Se observar algo nesse sentido, procure um mecânico. Busque, além disso, revisar os postos onde tem abastecido.

Vela de ignição

Expor o veículo a um abastecimento com gasolina adulterada, por exemplo, pode corroer a vela de ignição, responsável por criar a força necessária para movimentar o carro. Ao fazer uma revisão, é indicado pedir atenção ao estado dessa peça.

Corpo de borboleta

O chamado corpo de borboleta é outra peça que pode ser danificada na presença de combustível adulterado. Isso pode causar oscilações atípicas na aceleração do veículo, comprometendo o desempenho do carro.

Desempenho abaixo do normal

Autor/Veículo: O Estado de S.Paulo