Search
Close this search box.

Lula demite Jean Paul Prates; Magda Chambriard será a próxima presidente da Petrobras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comunicou ao presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que ele está fora da empresa.

Prates se despediu nesta tarde de seus diretores e comunicou à equipe que Magda Chambriard será a nova presidente da Petrobras. Ela foi diretora-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP) no governo Dilma Rousseff e atuou como funcionária de carreira da petroleira por 22 anos. Engenheira de formação, Magda é também consultora na área de energia e petróleo. Uma vez oficializada no cargo, será a segunda presidente mulher da estatal – a primeira foi Graça Foster (2012-2015).

O Conselho de Administração da companhia, segundo apurou a equipe do blog, ainda não foi informado sobre a demissão de Jean Paul Prates. Após a publicação desta matéria, a empresa informou através de um comunicado que Prates convocou uma reunião para que o colegiado delibere sobre o “encerramento antecipado de seu mandato como presidente” da estatal “de forma negociada”.

Ainda segundo a nota, o CEO pretende apresentar sua renúncia ao cargo de membro do conselho após a confirmação de seu desligamento do comando da Petrobras.

Na interpretação de conselheiros e executivos, a ida de Magda para a estatal representa uma vitória da linha intervencionista do governo sobre a empresa no momento em que o presidente Lula pressiona a petroleira a licitar e acelerar obras polêmicas como o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

Segundo um aliado histórico de Lula, a nova CEO foi apadrinhada por lideranças do PT da Bahia, como o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o líder do governo no Senado Federal, Jaques Wagner.

Em uma mensagem enviada a aliados por WhatsApp, em tom de desabafo, Jean Paul Prates afirmou que sua missão à frente da Petrobras “foi precocemente abreviada na presença regozijada de Alexandre Silveira [ministro de Minas e Energia] e Rui Costa”.

“Não creio que haja chance de reconsideração”, lamentou o CEO demissionário. “Só me resta agradecer a vocês e torcer que consigam ficar ou se reposicionar. Contem comigo no que eu puder fazer”.

Processo de fritura

O CEO da Petrobras enfrentou nos últimos meses uma intensa fritura interna no governo, acumulando disputas com Costa e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que almejavam ampliar o poder sobre a estatal.

Silveira e Prates rivalizavam em torno da influência sobre a estrutura da Petrobras. Enquanto o CEO buscou assegurar o domínio sobre a diretoria da petroleira, o ministro de Minas e Energia emplacou nomeações importantes no Conselho de Administração.

Conforme publicamos na semana passada, Silveira colocou várias pessoas de sua confiança em postos estratégicos na companhia. Além dos três conselheiros que ele indicou, Silveira também domina os colegiados pelos quais passam todas as decisões importantes da Petrobras.

Hoje, 17 das 25 vagas em comitês da companhia, incluindo o Conselho Fiscal, são ocupadas por pessoas indicadas pelo ministro, de dentro e de fora da empresa. A presença deles é tão marcante na companhia que ganharam o apelido de “Silveirinhas”.

Mas o desgaste entre o CEO e o ministro, que se prolongava desde o início do terceiro mandato de Lula, se agravou após Silveira conceder uma entrevista à Folha de S. Paulo admitindo o conflito com Prates e dizendo que não abriria mão de sua autoridade como ministro sobre a companhia.

Como informou o colunista Lauro Jardim à época, a situação se agravou depois de que Prates declarou à colunista da Folha Monica Bergamo que havia pedido uma reunião “definitiva” com Lula para tratar sobre a sua fritura no cargo. No Planalto, o movimento foi encarado como uma tentativa do CEO da Petrobras de emparedar o presidente, o que o teria irritado.

Em abril, o presidente Lula chegou a convidar o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, para assumir o comando da petroleira. Mas pesou a favor da permanência de Prates o apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como publicamos no blog.

Briga por dividendos

A fritura ocorreu em meio ao impasse sobre a distribuição dos dividendos extraordinários da Petrobras.

Prates defendia a proposta da diretoria de distribuir aos acionistas 50% dos recursos que sobraram no caixa após o pagamento dos dividendos regulares – R$ 43,9 bilhões. Já o grupo de Alexandre Silveira defendia segurar todo esse dinheiro em um fundo de reserva com o objetivo de melhorar as condições da empresa de obter empréstimos para investimentos.

Lula arbitrou a disputa e determinou que os seis conselheiros indicados pela União votassem contra o pagamento. Prates negou publicamente que houvesse uma ordem do presidente da República nesse sentido, mas foi desmentido pelo próprio petista no mesmo dia.

Após duas reuniões encabeçadas por Lula, o presidente encampou a tese de Silveira, o que irritou Jean Paul Prates.

Como publicamos no blog, o presidente da estatal chegou a acompanhar a reunião do Conselho de Administração de forma remota após considerar a derrota para o ministro de Minas e Energia irreversível.

A reação do mercado financeiro à decisão do governo foi vender ações e derrubar o valor de mercado da companhia em mais de 10%. Num único dia, a Petrobras se desvalorizou em R$ 55 bilhões.

No ápice da crise, auxiliares de Lula no Palácio do Planalto atribuíram a Prates, ex-senador do PT pelo Rio Grande do Norte, uma falta de traquejo político na gestão da empresa. Mesmo Haddad, que sempre funcionou como uma espécie de escudo para o CEO na guerra interna do governo em torno dos rumos da companhia, admitiu a Silveira e Costa no auge da fritura que o dirigente tinha um temperamento difícil e dificuldades de dialogar.

Um dos exemplos dessa falta de traquejo, de acordo com ministros palacianos, foi o entrevero entre Prates e o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, a respeito de um pedido de autorização dos técnicos da corte contábil para investigar a possibilidade de fraude no contrato da Petrobras com a fábrica de fertilizantes Unigel.

Em uma dura troca de mensagens com letras em caixa alta, o CEO da Petrobras cobrou Dantas pela publicação de uma matéria sobre o caso no blog. O presidente do TCU se queixou ao Palácio do Planalto.

Na ocasião, três auxiliares de Lula e um aliado de Prates disseram à equipe do blog que Prates não tinha jogo de cintura e foi dinamitando pontes por não entender que o cargo de dirigente da Petrobras não é apenas técnico, mas também político.

Apoio de sindicalistas

Durante a composição de sua equipe na presidência, Jean Paul Prates se cercou de aliados e quadros ligados à Federação Única dos Petroleiros (FUP) para se contrapor à forte influência de Alexandre Silveira sobre o Conselho de Administração, peça crucial na definição das estratégias e investimentos mais relevantes, e para se afirmar diante de diretores remanescentes do governo Jair Bolsonaro.

Desde que tomou posse, Prates indicou ao menos três assessores ligados à entidade e nomeou o dirigente sindical José Maria Rangel, conhecido como Zé Maria, para a gerência-executiva de responsabilidade social da petroleira.

O cargo é cobiçado desde o governo Bolsonaro por dispor de um orçamento de quase meio bilhão de reais e com poucas verbas carimbadas, ao contrário dos setores mais ligados à exploração de petróleo.

Outra nomeação atribuída à FUP foi a do gerente-executivo de Recursos Humanos da Petrobras, Felipe Freitas, que deixou a companhia em agosto do ano passado.

Mas, nos últimos tempos, a relação de Prates com a FUP se esgarçou. Os sindicalistas vinham se queixando internamente do ritmo dos investimentos em refinarias e em projetos de transição energética – considerado muito lento.

Também reclamam da permanência em cargos de comando de dois diretores remanescentes da era Bolsonaro, que por isso são constantemente atacados pelos sindicalistas em redes sociais.

Durante a fritura de Prates, a FUP chegou a divulgar uma nota pública condenando o “espancamento público do presidente da Petrobras”, mas, na mesma nota, disse reconhecer que “a decisão final será do presidente Lula” – o que foi interpretado, à época, como um aval tácito à nomeação de Aloizio Mercadante, que acabou não se consolidando.

Autor/Veículo: O Globo