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Com oito presidentes em oito anos, gestão instável da Petrobras faz ações tropeçarem

O conselho de administração da Petrobras vai analisar nesta sexta-feira (24) o nome de Magda Chambriard para o comando da estatal, finalizando o mais recente capítulo de sua crise de gestão.

Indicada à chefia da companhia pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Chambriard vai substituir Jean Paul Prates, o oitavo a deixar a cadeira da petrolífera em oito anos.

A saída de Prates na semana passada levou as ações da maior empresa do país a uma montanha-russa já habitual aos investidores. Em três dias, os papéis preferenciais (PETR4) derreteram sob temores de interferência política, e a Petrobras perdeu R$ 57,5 bilhões em valor de mercado.

De lá para cá, as ações têm ensaiado uma recuperação, e, na última quarta-feira (22), chegaram a reconquistar parte das perdas quando Chambriard foi aprovada pelo Comitê de Pessoas do conselho da estatal. “A indicação da Sra. Magda Chambriard preenche os requisitos necessários previstos nas regras de governança da companhia e legislação aplicável”, afirmou a Petrobras, em nota.

Desde o mandato de Pedro Parente, que começou em maio de 2016 e terminou em junho de 2018 em resposta à greve dos caminhoneiros, o posto de chefia da empresa vive uma instabilidade que é apontada como o maior fator de insegurança aos papéis negociados na Bolsa, dizem analistas consultados pela Folha.

Das oito trocas de comando até aqui, ao menos cinco foram responsáveis por grandes tombos das ações da Petrobras.

A saída de Parente trouxe o primeiro: entre 30 de maio e 1º de junho de 2018, o valor do papel foi de R$ 18,98 para R$ 16,16, uma desvalorização de 14,8%. O indicado de Michel Temer, vale lembrar, foi responsável pelo desenvolvimento da PPI (política de paridade internacional de preços), que atrelou os valores dos combustíveis no Brasil ao mercado internacional e, assim, diminuiu o poder de interferência política nos preços.

A medida trouxe segurança aos investidores, mas quando o diesel disparou e afetou o bolso dos caminhoneiros, também trouxe uma crise que levou à renúncia de Parente e à revisão do modelo de precificação.

Ivan Monteiro assumiu o cargo e o deixou em janeiro de 2019, sob o governo de Jair Bolsonaro.

Entrou, então, Roberto Castello Branco. Ele presidiu a estatal quando a pandemia e a crise geopolítica entre Rússia e Arábia Saudita pressionaram os preços do petróleo, que fizeram as ações da Petrobras derreterem, em março de 2020. A notícia de sua demissão foi divulgada nas redes sociais em abril de 2021, motivada, novamente, por pressão de caminhoneiros após reajustes no preço do diesel.

Na ocasião, os papéis foram de R$ 24,35, em 14 de abril, para R$ 22,95 dois dias depois —uma queda acumulada de 5,74%.

Joaquim Silva e Luna assumiu e, pressionado pela disparada do barril do petróleo com o início da guerra da Ucrânia, deixou o cargo em abril de 2022. A troca por José Mauro Coelho fez as ações derreterem 11% no acumulado de quatro dias.

Após dois meses, Mauro Coelho foi substituído por Caio Paes de Andrade, que, a convite do então governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tornou-se secretário de Gestão do estado e saiu da Petrobras em janeiro de 2023.

Quando Jean Paul Prates assumiu, após vinte dias com João Henrique Rittershaussen como presidente interino, as ações tiveram mais um tombo e perderam 2,2%, sob temores de como Lula 3 lidaria com a estatal.

“Praticamente todas as trocas de presidente da Petrobras foram motivadas ou por desagrado do governo com a tese de investimentos ou por mal-estar social, como disparada de preços de combustível”, avalia Marcelo Vieira, chefe de renda variável da Ville Capital.

A troca de presidentes passou a se refletir nos papéis da estatal. O ciclo é o mesmo: após uma forte reação inicial, as ações buscam a recuperação.

“Quando acontece um fato estressante que mexe com o valor de mercado da empresa, os investidores mais dinâmicos, mais sensíveis às notícias, vendem seus papéis e esperam para ver o que vai acontecer. Conforme a poeira abaixa, eles se perguntam: essa troca vai mexer de forma estratégica no plano da empresa a longo prazo? A resposta quase sempre é não. E aí eles começam a comprar ações de novo”, explica Vieira.

Com uma série de mudanças no modelo de negócios da empresa, como a venda de refinarias, diminuição da dívida pública e forte distribuição de dividendos, a Petrobras passou a atrair investidores mesmo em meio à dança das cadeiras. O resultado: o valor de mercado saiu de R$ 120 bilhões, em 2016, para cerca de R$ 500 bilhões em 2024.

A chegada de Magda Chambriard acontece em meio a dúvidas sobre o perfil da estatal sob Lula 3.

O longo processo de fritura de Jean Paul Prates foi motivado por um embate com a ala política —Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, e Rui Costa, da Casa Civil— sobre como se daria a distribuição de dividendos extraordinários: enquanto Prates defendia distribuir 50% dos recursos aos acionistas, Silveira e o conselho de administração se preocupavam com o fôlego da estatal para investimentos, inclusive em energia limpa.

A decisão de reter os recursos na empresa causou reação de investidores na Bolsa e tirou bilhões em valor de mercado da companhia, não só por temores de ingerência política, mas também por riscos à rentabilidade da estatal. Pouco depois, o governo federal voltou atrás e autorizou a distribuição.

Desde a campanha eleitoral que o levou ao terceiro mandato, Lula defende que a Petrobras reduza a distribuição de dividendos, liberando mais recursos para investimentos —estratégia oposta à adotada por Jair Bolsonaro, que priorizou a remuneração dos acionistas.

Autor/Veículo: Folha de S.Paulo