A Câmara dos Deputados aprovou e mandou para apreciação do Senado Federal o Projeto de Lei do deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), que aumenta o percentual de etanol na gasolina dos atuais 27,5% para até 35%.
A mudança faz parte do projeto Combustíveis do Futuro e engloba também a adição anual de 1% de biodiesel ao litro do diesel, até que a porcentagem, hoje em 14%, atinja 20% ao final da década, em 2030.
O viés ecológico da medida que irá ao Senado para votação é indiscutível, mas vem gerando dúvidas e preocupações nos consumidores. Os principais questionamentos são a respeito de como isso afetará o consumo e a manutenção dos carros, especialmente os mais antigos, que não têm a tecnologia flex.
Afinal de contas, com 35% do etanol na mistura do litro da gasolina, o carro vai gastar mais? Vai precisar de algum tipo de adaptação ou uma manutenção periódica mais frequente?
“Já era ruim e vai ficar pior”
A reportagem do Canaltech conversou com Fernando Batista, o Batistinha. O especialista é piloto, preparador de motores e proprietário da BTS Performance, que há mais de 40 anos é referência no mercado de esportivos e superesportivos em São Paulo.
Na visão de Batistinha, se o aumento do percentual de etanol na gasolina for aprovado pelo Senado, os donos de carros passarão por maus bocados. E não apenas aqueles que têm carros antigos ou que rodam exclusivamente na gasolina.
“A gasolina com 27% já era ruim. Com 35%, o que era ruim vai ficar pior”, resumiu antes de elencar quais os principais problemas que a alteração na mistura pode acarretar.
“O problema dessa quantidade de álcool (etanol) é que carro que fica parado muito tempo vai criando aquela borra, aquela gelatina nos carburadores, e entope tudo. Ele vai entupir um pouquinho antes porque terá mais álcool”, explicou, alertando para possíveis danos mecânicos nos carros que não foram projetados para trabalhar com etanol.
Segundo Batistinha, os primeiros carros equipados com injeção eletrônica sofrerão mais, pois o sistema “não era tão inteligente e não vai conseguir corrigir essa diferença”, mas os novos não estarão imunes aos problemas causados pelo aumento do etanol na gasolina.
“Nos carros mais modernos, a injeção é inteligente e acaba corrigindo essa diferença, mas, mesmo quando acerta essa parte na injeção, com essa quantidade de álcool qualquer carro vai consumir um pouco mais”.
“Vai pesar no bolso”
O consumo, aliás, foi outro ponto levantado como Batistinha como preocupante, mesmo em carros mais modernos, com a chamada injeção inteligente. Na visão do preparador, “vai pesar no bolso de todo mundo”.
“Todos os veículos do Brasil vão começar a piorar um pouquinho o consumo. O álcool gasta mais que a gasolina, então os carros vão fazer menos quilometragem por litro. Duvido que o preço da gasolina irá baixar”, apostou.
“Estão vendendo um produto que precisaria ser mais barato pelo mesmo preço, ou seja, estão aumentando o valor da gasolina e vai doer no bolso de todos, pois o carro não vai mais render tanto. Vai piorar. Sutil, mas vai”, concluiu Batistinha.
(com Canaltech)